Na sequência do que ficou escrito sobre os hábitos das Ordens Militares, apresento mais uma passagem do Manuscrito de Matheus Roiz (Mateus Rodrigues), acrescentando outro exemplo aos que foram então referidos. O relato reporta-se ao rescaldo de uma escaramuça perto de Arronches, que o autor situa em Dezembro de 1643. Como é usual neste blog, actualizou-se a ortografia original.
[Voltámos] para a vila com grandíssimo gosto e alegria, e vendo logo ali na campanha quem nos faltava, não mais que um soldado, que esse logo houve quem o viu matar, porque foi tão bárbaro que ao tempo que chegámos ao inimigo, logo se meteu só neles como um doido, sem consideração nenhuma, mas era homem de grandes forças e bom soldado, só este perdemos, mas feridos vieram 14 ou 15 homens e nenhum morreu. Tomámos logo ali conta dos cavalos que traziam os soldados, acharam-se 37 e todos mui bons, e vinham 18 homens vivos, que os mais ficavam mortos. Nestes vivos entrava o capitão, que era traidor, que o acompanhou um soldado nosso, natural de Elvas, por nome Gaspar Roiz [Rodrigues], e depois de lhe ter já dado uma grã cutilada na mão esquerda [em combate], quis matá-lo, não sabendo que era o capitão. Ele então se descobriu ao soldado, que o não matasse, que era capitão, e tirando-lhe um capotilho vermelho e um bom colete, logo lhe viu o hábito que trazia debaixo, que era o de São Tiago [Santiago], que lhe havia dado El-Rei Filipe [IV]. (Manuscrito de Matheus Roiz, pg. 57)
Neste caso, o hábito seria apenas a insígnia pendente de um colar ou fita.
Imagem: Azulejo seiscentista monocromático representando um cavaleiro armado de pistola. Fotografia enviada por João Torres Centeno.