O novo contrato com os mercenários holandeses, Julho de 1644 (1ª parte)

O tema que ora inicio está relacionado com assuntos já tratados aqui, aqui e aqui, respeitantes à presença do contingente holandês em Portugal, durante os primeiros anos da Guerra da Restauração.

O contrato estabelecido com os mercenários holandeses em Agosto de 1641 expirou passados três anos. Em Julho de 1644, apesar das reticências de D. João IV (ou de quem aconselhava particularmente o Rei) quanto a manter os holandeses ao seu serviço, tanto o Conde de Alegrete Matias de Albuquerque, governador das armas do Alentejo, como D. João da Costa, mestre de campo general, trataram de pressionar a Coroa no sentido de fazer um novo contrato com aqueles estrangeiros. Contrariando o mito – que se perpetuaria até aos nossos dias – da responsabilidade da cavalaria holandesa na derrocada inicial da batalha de Montijo, os experientes soldados das Províncias Unidas eram muito apreciados pelos comandantes que operavam no terreno. Havia, claro, o problema da religião, que dificultava as relações entre portugueses e holandeses – mesmo que D. João da Costa afirmasse que muitos oficiais e soldados do contingente eram católicos, a maioria era protestante, como se depreende de várias passagens das narrativas de guerra e de documentos oficiais, incluindo o próprio contrato que abaixo se apresenta; e a isto se juntava a sempre presente desconfiança em relação aos estrangeiros, um traço comum da mentalidade do período. Aliás, a tolerância em relação aos militares protestantes estava condicionada à discrição da sua conduta – só não “causando escândalo” ficariam ao abrigo de qualquer procedimento de natureza jurídica.

Não obstante estas contrariedades, a falta de efectivos experientes e capazes no exército português da província do Alentejo tornou imperioso manter ao serviço da Coroa portuguesa os profissionais holandeses. D. João IV acabou por dar o seu consentimento à elaboração de um novo contrato.

É o documento respeitante a esse contrato – ou capitulação, como então se designava um acordo deste género – que irei transcrever em duas partes, vertendo para português moderno a ortografia seiscentista original.

Capitulação feita com Sua Excelência o Conde Governador das Armas desta província em nome de Sua Majestade, com os poderes que para isso lhe deu o dito Senhor, entre o tenente-coronel Alexandre van Harten [no original está escrito Herten, mas o nome correcto é Harten, como se pode ver pela assinatura do próprio] e o dito Senhor Conde Governador, em razão de se formar um terço de cavalaria estrangeira [a designação terço aparece por vezes em lugar de regimento; o sistema regimental não existia ainda no exército português], que com o dito tenente-coronel hão-de servir nestas ditas fronteiras de Alentejo, ao qual deram os seus oficiais os poderes necessários para a dita capitulação na maneira seguinte:

Proposta antes da capitulação

O tenente-coronel e seus oficiais protestam a Sua Majestade com todo o ânimo e vontade em seu Real Serviço fazerem que os soldados e mais oficiais do Regimento Holandês fiquem no serviço do dito Senhor, fazendo-lhe toda a instância para que neste Reino sirvam na forma das capitulações abaixo:

Que sendo caso que os oficiais do Regimento Holandês que acaba em fim de Julho presente, por mal intencionados intentarem consigo levar para Holanda alguns dos ditos soldados, ou eles próprios soldados o fizerem por outro qualquer inconveniente, eles ditos tenente-coronel e oficiais não serão obrigados a perda e desserviço que nisto a Sua Majestade se fizer, mas antes o dito Senhor lhe remunerará o trabalho que na condução e levas tiverem feito, mandando-lhes tomar contas do dinheiro que tiverem recebido para o tal efeito, ficando depois desobrigados de toda a capitulação, e nesta conformidade os capítulos dela são os seguintes:

1. Que o dito tenente-coronel e oficiais e soldados que ficarem servindo neste terço o farão bem e fielmente, tomando todos juramento na forma acostumada, em mãos do dito Senhor Governador, para que em nome de Sua Majestade lhe tome a menagem, ficando obrigados a servirem contra todos os inimigos desta Coroa, sem distinção alguma, não sendo eles ditos tenente-coronel e oficiais e soldados obrigados a servirem em outra parte mais que pela defensa da terra firme e costa de Portugal.

2. Que o tenente-coronel, oficiais e soldados que houverem de ficar serão pagos de seus [soldos] atrasados, conforme a capitulação holandesa, na conformidade que o hão-de ser os demais oficiais e soldados que do Regimento Holandês se vão para Holanda. E recebendo estes ditos oficiais e soldados dinheiro em alguma parte dos ditos atrasados, entrarão eles ditos capitulantes na dita partilha, ficando pagos para que de novo comecem o dito contrato.

3. Que Sua Majestade terá respondido a proposta que o tenente-coronel lhe fizer para os oficiais que se houverem de criar no dito regimento, e não se farão de outro, havendo sujeitos capazes nele.

4. Que enquanto à administração da justiça, será conforme às leis e costumes militares deste Reino de Portugal.

5. Que os oficiais e soldados gozarão de todos os privilégios que gozam os vassalos desta Coroa, e morrendo na guerra ou de doença, até ao dia de sua morte ou de sua ausência se lhes pagarão seus soldos em mão dos seus capitães, ou de seus herdeiros. E sendo oficial, na do maior, não se metendo outra pessoa alguma nos ditos soldos e bens que ficarem dos defuntos, mais que os oficiais do próprio Regimento, os quais serão obrigados a fazer tudo aquilo que os restantes deixarem ordenado. E que os feridos, se lhe pagará seu soldo, na conformidade que aos mais soldados e oficiais.

6. Que se não procederá contra os oficiais e soldados por causa da religião, não procedendo com escândalo.

7. Que ao tenente-coronel e oficiais e soldados lhe serão dados cavalos necessários e de préstimo para poderem servir a Sua Majestade com todas as dependências para eles necessárias, como convém: armas, que constará de duas pistolas e uma carabina, peito e espaldar e murrião a cada soldado. E estas por uma vez somente, das quais darão conta seus oficiais ou o dito tenente-coronel, salvo os cavalos e armas que perderem nas batalhas, e outros casos extraordinários se lhes levará em conta na forma em que se fizer com todos os mais soldados portugueses e franceses.

(continua)

Fonte: ANTT, Conselho de Guerra, Consultas, 1644, maço 4-B, documento anexo à consulta de 2 de Agosto.

Imagem: “Cavaleiros num acampamento militar”, pintura de Philips Wouwerman.

Um desaire a caminho de Juromenha – Março de 1646

Regresso ao blogue com um episódio do quotidiano bélico seiscentista, respigado das memórias de Mateus Rodrigues, mas sobre o qual não localizei ainda outras fontes que possam corroborar, contradizer ou complementar o que o soldado de cavalos deixou escrito. Tratou-se de uma escaramuça que não correu bem para a companhia onde servia Mateus Rodrigues. A data do acontecimento é incerta – sabe-se que que ocorreu no mês de Março, mas o último algarismo do ano é ilegível; optei por 1646, tendo em conta o encadeamento na narrativa. No entanto, há diversas imprecisões nas memórias de Mateus Rodrigues, no que diz respeito a datas. Sigamos, com a devida reserva, o que nos conta o memorialista, aproveitando para realçar que o principal interesse deste episódio reside nos pormenores da pequena guerra, quase sempre ausentes das grandes sínteses.

Mateus Rodrigues começa por referir que a sua companhia, então comandada pelo comissário geral D. João de Azevedo e Ataíde, estava aquartelada em Olivença. O comissário geral tinha à sua responsabilidade as oito companhias de cavalaria daquela praça onde, por ser a planície circundante muito perigosa, não entrava nada que pertencesse a El-Rei que não fosse escoltado pela cavalaria desde o rio Guadiana, a cerca de duas léguas da vila. Foi assim que aconteceu com um comboio de 200 cavalgaduras, carregadas de munições, farinha e outros abastecimentos.

E logo quis a fortuna que o inimigo tivesse notícia deles, e foi a minha companhia tão mal afortunada que lhe tocou [n]aquele dia ir ao comboio [ou seja, fazer a escolta dos animais de carga] (…) logo pela manhã (…). E assim como esteve a companhia junta à porta do capitão [o termo capitão é aqui usado no sentido generalista de comandante da companhia], chamou (…) um cabo de esquadra, por nome Francisco Cabral Barreto, e lhe disse que tomasse dez cavalos da companhia e fosse diante [com] duas ou três horas [de avanço] da companhia a descobrir a campanha. E lhe advertia que vinha um comboio mui grosso; que descobrisse muito bem a campanha (…).

Logo que o cabo de esquadra recebeu a ordem, partiu com os dez cavalos para fazer o reconhecimento, cumprindo escrupulosamente o que era hábito fazer, que era uma boa légua fora da estrada para todas as partes. No último posto, situado num outeiro de onde se descortinava toda a campina, ficou postada uma sentinela, e daí até ao local onde a companhia devia aguardar pelo comboio de abastecimentos – uma ermida a meia légua do Guadiana – foram sendo colocadas sentinelas, em locais altos e todas à vista umas das outras.

O tenente que comandava a companhia nesta operação (não cumpria ao comissário geral fazer serviço de comboios ou rondas, ainda que disso a sua companhia não estivesse dispensada), chegando ao local combinado com o restante dos seus homens, mandou que estes desmontassem e dessem de comer aos cavalos. Não faltava erva e assim o fizemos todos até que o comboio veio chegando, que como ainda não havia porto em Guadiana passava tudo nas barcas, que são duas. A longa coluna de animais foi atravessando o rio nas barcas, bem devagar. Assim que chegavam à outra margem, punham-se em marcha para Olivença, pois não havia tempo para esperarem até que todos tivessem passado o rio.

A cavalaria inimiga tinha muitas vezes atacado e tomado comboios de abastecimento na estrada de Olivença, e desta vez montou uma emboscada perfeita. Como aquela campanha é meia rasa e tem muitos vales e covas onde o inimigo se pode esconder à sua vontade, como não chegam onde ele estiver, logo fica bem. A cavalaria de Badajoz, num total de 14 companhias com 700 homens, foi emboscar-se um quarto de légua mais adiante de onde tinha ficado a sentinela mais avançada do dispositivo de segurança português, montado previamente pelo cabo Francisco Cabral Barreto. Desse local não podiam ver a coluna de abastecimento aproximar-se, mas como soldados experientes que eram, calcularam bem a hora do dia em que o comboio atravessaria o Guadiana.

Assim como lhe pareceu horas, tomaram uma partida de 20 cavalos e mandaram-na avançar com [ou seja, contra] a nossa sentinela, que estava junto deles um tiro de mosquete (…). Assim como a nossa sentinela viu vir os 20 cavalos correndo, vem fugindo para onde estava a companhia, tocando arma. As demais sentinelas também abandonaram os seus postos, correndo a avisar o tenente da aproximação da força inimiga. Quando a companhia portuguesa se preparou para enfrentar os 20 cavalos inimigos, a restante cavalaria espanhola revelou a sua presença e atacou, dividida em duas partes. Uma lançou-se sobre as cavalgaduras da vanguarda que já estavam na estrada para Olivença. A outra correu sobre a parte do comboio que estava ainda junto do Guadiana.

Entre os portugueses gerou-se a confusão. O tenente tinha consigo 40 homens; os 15 que faltavam estavam espalhados pelos postos que lhes tinham sido atribuídos. Confiantes quanto a derrotarem a vintena de cavalo que inicialmente se aproximara, deram consigo cercados pelo muito mais numeroso dispositivo inimigo. Não tivemos outro remédio senão tratar cada um de seu livramento. A fugida para Olivença não podia ser, porque além de ser légua e meia, estava era muito mais perto, que não era (…) meia légua. Mas também o inimigo nos tinha tomado a dianteira o inimigo lá adiante. Foi para Juromenha que resolveram os portugueses fugir. Mas o inimigo, assim como nos viu, se veio a nós como um raio, contudo fomos-lhe fazendo nossas diligências, cada um o que podia. E quem tinha melhor cavalo, melhor livrava.

Assim como de Juromenha viram o inimigo, logo tiraram duas peças para aviso de Olivença, que saíssem as tropas; e também mandou o capitão-mor de Juromenha duas mangas de mosqueteiros muito depressa em as barcas, para defenderem o comboio que estava a maior parte dele já passado. Mas estava ainda por carregar tudo em os barrancos, e assim como os almocreves viram que vinha o inimigo, descarregaram mui depressa algumas bestas que tinham já carregadas e deixaram-se estar mui caídinhos e agachados ao pé dos barrancos.

Assim como nós chegámos a Guadiana, já não íamos muito mais 15 ou 16 soldados com o nosso alferes, que era Agostinho Ribeiro (…), e não tínhamos nenhum remédio senão passar o pego a nado ou entregar[mo]-nos aos castelhanos. E disse o nosso alferes aos que ali iam que todos o acompanhassem a passar a nado o pego (…), que nenhum se rendesse ao inimigo, que os cavalos nos haviam de botar fora mui bem. De sorte que assim o fizemos, mas com grande risco nosso, em razão que iam os cavalos mui cansados de correr meia légua à rédea solta, e metê-los a um pego connosco em cima deles (…) não havia de salvar nenhum homem (…). Apenas nós nos botámos ao pego a nado, já o inimigo chegava aos barrancos do Guadiana (…) e logo começaram aos tiros a nós, dos quais ainda nos mataram um soldado no meio do pego, que lhe deram com uma bala pelas costas (…) Mas os demais saímos fora, ainda que com trabalho, que também outro soldado nosso esteve quase afogado, andando debaixo do cavalo um pouco de tempo, até que saiu arriba e pegou-se ao rabo do cavalo e saiu fora, mas muito cheio de água, que o tomámos com as pernas para cima e a cabeça para baixo e botou muita água da barriga.

De modo que o nosso tenente foi Guadiana abaixo com tenção de passar pelo porto que já levava pouca água. (…) Fiava-se em o bom cavalo que levava, mas sempre o seguiram três castelhanos até entrarem com ele pela água dentro às pancadas, que ainda lhe deram uma cutilada na cabeça, mas livrou[-se], que assim como os castelhanos viram que os seus cavalos se iam metendo muito na água deixaram-no ir, que o seu cavalo era muito valente e tomou sempre pé (…).

Entretanto, a cavalaria inimiga regressava a Espanha com a presa que tomara, sensivelmente metade das cavalgaduras do comboio. As outras 100 não foram detectadas, porque fazem ali os barrancos uma grande altura com o rio, e estando alguém a cavalo ao pé deles não pode ver quem está em baixo, e como o inimigo fez ali pouca detença, não lhe ficou lugar de saber. Nove soldados portugueses foram também levados prisioneiros e dois morreram na escaramuça.

As restantes companhias de Olivença, ouvido o alarme dado pelas peças de Juromenha, saíram da praça sob o comando de D. João de Ataíde, mas já o inimigo ia muito afastado. O comissário geral ficou muito zangado com o cabo de esquadra a quem ordenara o reconhecimento e a quem atribuía as culpas pelo insucesso, mas não pôde descarregar a sua ira no sujeito, pois este fora um dos prisioneiros que a cavalaria inimiga levara para Badajoz. Como as trocas de prisioneiros estavam então suspensas, Francisco Cabral Barreto ficou 18 meses cativo. Mateus Rodrigues refere que o cabo não teve culpa alguma no desaire, pois não foi por erro seu que a força portuguesa sofreu a emboscada. (…) Ele é e foi sempre tão bizarro soldado, que assim como D. João se ausentou das fronteiras [em 1647], logo subiu em breves tempos [a] ajudante da cavalaria, que é o posto em que ficava quando me ausentei das fronteiras [em Fevereiro de 1654].

Fonte: MMR, pgs. 139-145.

Imagem: “Choque de cavalaria”, pintura de Pieter Meulener.

Manuel Freire de Andrade – um pequeno apontamento sobre a sua carreira

Manuel Freire de Andrade foi um oficial que se distinguiu durante a Guerra da Restauração na cavalaria, tendo chegado ao posto de general da cavalaria da Beira, no desempenho do qual viria a ser mortalmente ferido na batalha de Ameixial, em 1663.

A sua ascensão aos postos mais elevados do exército iniciou-se em 1653, quando foi proposto por D. Rodrigo de Castro, então governador do partido de Riba Coa, para comissário geral da cavalaria, posto que se encontrava vago por promoção de João de Melo Feio a mestre de campo.

É dessa proposta, enviada ao Conselho de Guerra, que consta uma abreviada resenha da carreira militar de Manuel Freire de Andrade, na qual se refere que o então capitão de cavalos sempre servira na cavalaria (no Alentejo e na Beira), entrando nas campanhas de 1643, 1645 e 1646, com sua pessoa e 2 criados à sua custa; e que havia 4 anos e meio que servia na da Beira, sendo um deles de soldado com 2 cavalos, e 3 anos e meio como capitão de uma companhia, tendo servido com distinção no assalto e queima da vila de Sabugo, Villa Vieja e Bugajo, na ocasião em que o Marquês de Távora veio à praça de Almeida com 3.000 infantes e 800 cavalos, no assalto ao forte e vila de Ródão, na escalada dos arrabaldes da cidade de Coria, queima da vila de Martingo e em outras ocasiões, tendo também servido na Armada que foi desimpedir a barra de Lisboa dos navios do Parlamento inglês (1650).

A sua nomeação, no entanto, demorou alguns meses a ser efectivada. Só em 14 de Fevereiro de 1654 o Rei confirma, por decreto o novo posto de Manuel Freire de Andrade, e em 23 do mesmo mês é escrita uma carta régia a D. Rodrigo de Castro, dando conta da referida nomeação.

Fontes: ANTT, Conselho de Guerra, Consultas, 1653, mç. 13, consulta de 17 de Julho de 1653; e Secretaria de Guerra, Livro 17º, fls. 125-125 v.

Imagem: vista de Almeida, praça forte onde residia o governador do partido de Riba Coa (ou de Almeida), D. Rodrigo de Castro. Foto de JPF.

O Real Ejército de Extremadura em Julho de 1642

Mais uma vez estou em dívida para com o estimado amigo Juan Antonio Caro del Corral, que me fez recentemente chegar alguns documentos do Arquivo Geral de Simancas. Um deles diz respeito ao Real Ejército de Extremadura, que era oponente do Exército da Província do Alentejo no principal teatro de operações da Guerra da Restauração. Trata-se de uma listagem detalhada das unidades e respectivos efectivos, semelhante às que tenho divulgado para o lado português. Aqui o transcrevo, traduzido para português, deixando os meus agradecimentos ao Juan Antonio.

Relação dos oficiais e soldados que apareceram na mostra que em três do presente mês [de Julho] se fez ao quatros terços seguintes, nos quartéis de Valverde e Villar del Rey

a) INFANTARIA

Em Valverde

Terço da Nobreza

Companhia do mestre de campo: 6 oficiais, 10 soldados; total: 16 homens.

Companhia do capitão D. Cristoval Hortuño: 6 oficiais, 13 soldados; total: 19 homens.

Companhia do capitão D. Francisco Ortiz de Cayas: 7 oficiais, 18 soldados; total: 25 homens.

Companhia do capitão D. Fernando de Godoy: 7 oficiais, 24 soldados; total: 31 homens.

Companhia do capitão D. Alonso de Esquível: 6 oficiais, 47 soldados; total: 53 homens.

Companhia do capitão D. Cristoval de Vargas: 7 oficiais, 43 soldados; total: 50 homens.

Companhia do capitão D. Garcia Dávila: 6 oficiais, 44 soldados; total: 50 homens.

Companhia do capitão D. Juan de Villaverde: 7 oficiais, 18 soldados; total: 25 homens.

Companhia do capitão D. Pedro Tasso: 6 oficiais, 21 soldados; total: 27 homens.

Companhia do capitão D. Juan Antonio de Rojas: 7 oficiais, 18 soldados; total: 25 homens.

Companhia do capitão D. Lorenzo de Cevallos: 6 oficiais, 20 soldados; total: 26 homens.

Companhia do capitão D. Juan de Inegista: 5 oficiais, 5 soldados; total: 10 homens.

Companhia do capitão D. Suero Garcia Fuero de Valdés: 8 oficiais, 29 soldados; total: 37 homens.

Companhia do capitão D. Antonio Saens de la Peña: 8 oficiais, 33 soldados; total: 41 homens.

Companhia do capitão D. Antonio Juarez de Alarcon: 6 oficiais, 29 soldados; total: 35 homens.

Companhia do capitão D. Francisco Ortiz de Cayas: 7 oficiais, 18 soldados; total: 25 homens.

Companhia do capitão D. Alonso de Parada: 6 oficiais, 13 soldados; total: 19 homens.

Oficiais maiores do terço [primeira plana]: 13 oficiais.

TOTAL DO TERÇO: 123 oficiais, 464 soldados; total: 587 homens.

Terço do mestre de campo D. Francisco Xedler

Companhia do mestre de campo: 7 oficiais, 92 soldados; total: 99 homens.

Companhia do capitão D. Álvaro de Tomes [?]: 8 oficiais, 69 soldados; total: 77 homens.

Companhia do capitão D. Luis Manrique: 6 oficiais, 42 soldados; total: 48 homens.

Companhia do capitão D. Luis de Arrazola: 6 oficiais, 76 soldados; total: 82 homens.

Companhia do capitão D. Cristoval Calvo de la Banda: 6 oficiais, 65 soldados; total: 71 homens.

Companhia do capitão D. Francisco Velasco y Latorre: 6 oficiais, 55 soldados; total: 61 homens.

Companhia do capitão D. Manuel de la Rua: 7 oficiais, 65 soldados; total: 72 homens.

Companhia do capitão D. Diego Cortazar: 7 oficiais, 98 soldados; total: 105 homens.

Companhia do capitão D. Manuel Moreno: 8 oficiais, 79 soldados; total: 87 homens.

Companhia do capitão D. José de Olivares: 7 oficiais, 18 soldados; total: 25 homens.

Companhia do capitão D. Alonso Velloso: 6 oficiais, 93 soldados; total: 99 homens.

Oficiais maiores do terço [primeira plana]: 7 oficiais.

TOTAL DO TERÇO: 81 oficiais, 806 soldados; total: 887 homens.

Terço do mestre de campo D. Patricio Geraldino, de nação irlandesa

Companhia do mestre de campo: 7 oficiais, 56 soldados; total: 63 homens.

Companhia do capitão D. Mauro Suyne: 6 oficiais, 41 soldados; total: 47 homens.

Companhia do capitão D. Diego Geraldino: 6 oficiais, 43 soldados; total: 49 homens.

Companhia do capitão D. Eduardo Butler: 7 oficiais, 57 soldados; total: 64 homens.

Companhia do capitão D. Edmundo de Burgo: 7 oficiais, 40 soldados; total: 47 homens.

Companhia do capitão D. Dionisio Cavanal: 6 oficiais, 47 soldados; total: 53 homens.

Companhia do capitão D. Raymundo Roch: 10 oficiais, 63 soldados; total: 73 homens.

Oficiais maiores do terço [primeira plana]: 15 oficiais.

TOTAL DO TERÇO: 64 oficiais, 347 soldados; total: 411 homens.


Em Villar del Rey

Terço do mestre de campo Marquês de Falies [?]

Companhia do mestre de campo: 4 oficiais, 28 soldados; total: 32 homens.

Companhia do capitão D. Nicolas de Arevalo: 6 oficiais, 68 soldados; total: 74 homens.

Companhia do capitão Matias Sanchez Murillo: 6 oficiais, 62 soldados; total: 68 homens.

Companhia do capitão D. José de Velasco: 6 oficiais, 61 soldados; total: 67 homens.

Companhia do capitão D. Juan Carrasco y Zambran: 6 oficiais, 58 soldados; total: 64 homens.

Companhia do capitão D. Rodrigo Murillo: 6 oficiais, 45 soldados; total: 51 homens.

Companhia do capitão D. Bernardo Piñan del Castillo: 6 oficiais, 62 soldados; total: 68 homens.

Companhia do capitão D. Pedro Ruiz de Prado: 6 oficiais, 30 soldados; total: 36 homens.

Companhia do capitão D. Pedro de Peralta: 6 oficiais, 49 soldados; total: 55 homens.

Companhia do capitão D. Fernando Varela: 6 oficiais, 25 soldados; total: 31 homens.

Companhia do capitão D. Heronimo de Arce: 7 oficiais, 12 soldados; total: 19 homens.

Companhia do capitão D. Martin de Viana: 4 oficiais, 22 soldados; total: 26 homens.

Companhia do capitão D. Celedon Dencisso [?]: 6 oficiais, 17 soldados; total: 23 homens.

Oficiais maiores do terço [primeira plana]: 5 oficiais.

TOTAL DO TERÇO: 80 oficiais, 539 soldados; total: 619 homens.

TOTAL DOS TERÇOS EM VALVERDE E VILLAR DEL REY: 348 0ficiais, 2156 soldados; TOTAL: 2504 homens.

b) CAVALARIA

Em Barcarrota

Companhia do governador da cavalaria: 3 oficiais, 49 soldados; total: 52 homens.

Companhia de D. Alonso Velez: 4 oficiais, 54 soldados; total: 58 homens.

Companhia de D. Pedro Gonzalez de Sepiclueda [?]: 4 oficiais, 23 soldados; total: 27 homens.

Companhia de D. Alonso Velez: 4 oficiais, 54 soldados; total: 58 homens.

Companhia do Conde de Piñonrostro: 2 oficiais, 7 soldados; total: 9 homens.

Companhia de D. Francisco Sellan: 4 oficiais, 47 soldados; total: 51 homens.

Companhia de Pedro Pardo: 5 oficiais, 61 soldados; total: 66 homens.

Companhia de D. Gregorio Ortiz de Ibarra: 5 oficiais, 42 soldados; total: 47 homens.

Companhia de D. Juan Guerrero: 4 oficiais, 26 soldados; total: 30 homens.

Companhia que foi do capitão D. Juan Daza, que por sua morte se deu ao capitão D. Dionizio Ornahuno, que é formada de soldados de nações [ou seja, estrangeiros] que do Reino de Portugal se têm vindo a render a este exército: 2 oficiais, 64 soldados; total: 66 homens.

No Almendral

Companhia do Príncipe de Esquilache: 4 oficiais, 46 soldados; total: 50 homens.

Na Torre

Companhia do capitão D. Rodrigo de Cantos: 3 oficiais, 41 soldados; total: 44 homens.

Em Valverde

Companhia de Jaime Belmar: 5 oficiais, 19 soldados; total: 24 homens.

Companhia de D. Francisco Pacheco: 4 oficiais, 44 soldados; total: 48 homens.

Companhia de D. Juan de Inzueta: 4 oficiais, 29 soldados; total: 33 homens.

Companhia de D. Lucas de Ruezga: 3 oficiais, 18 soldados; total: 21 homens.

TOTAL DAS COMPANHIAS DE CAVALARIA EM BARCARROTA, ALMENDRAL, TORRE E VALVERDE: 56 0ficiais, 570 soldados; TOTAL: 626 homens.

A partir desta relação constata-se que o Real Exército de Extremadura contava com um total de 3.130 homens, dos quais  2.504 eram de infantaria (80%) e 626 de cavalaria (20%). De notar o elevado número de companhias (17) do terço da nobreza, bem como o rácio entre oficiais e soldados (mais de 1 oficial para 5 soldados) dessa unidade, o que, considerando o reduzido efectivo total, a tornaria pouco eficaz como unidade operacional. No entanto, neste segundo ano do conflito, a guerra fronteiriça ainda só conhecera pequenas operações de saque e pilhagem, e a situação do lado português era também de alguma ineficácia organizativa – algo que só começaria a ser mudado nos inícios de 1643, mas muito lentamente.

Fonte: Arquivo General de Simancas, Guerra y Marina, Legajo 1460, “Relación detallada del número de infantería y caballería que forma parte del denominado Real Ejército de Extremadura, acuartelado en la ciudad de Badajoz y villas circunvecinas. Julio de 1642″.

Imagem: Tropas holandesas desarmando-se (c. 1631). Pintura de Joost Cornelisz (1586-1666), Rijksmuseum, Amesterdão.