Há 350 anos… Notas sobre a campanha do Alentejo de 1663 – cerco e reconquista de Évora, de 24 a 26 de Junho

 

porta da LagoaNo dia e noite de 24 de Junho os combates foram particularmente violentos. Naquele dia cabiam as guardas pelo aproche de Sto. António, que ia à porta da Lagoa, e do qual aproche era engenheiro António Rodrigues, aos mestres de campo Martim Correia de Sá, Roque da Costa Barreto e Manuel de Sousa de Castro, que com a noite se preparavam para encostar à muralha 11 mantas (engenhos de cerco). Assim o fizeram, mas todas arderam pelos inumeráveis instrumentos de fogo de que dispunham os defensores. Mesmo sem nada que os cobrisse, os soldados não retiraram de junto da muralha, e quando nasceu o dia 25 ainda lá estavam.Da parte do quartel de Machede ganhou-se bastante terreno, mas saiu ferido o tenente-general da artilharia Fontenay, que guiava este aproche, e mataram os engenheiros Francisco Adão da Ponte e Bartolomeu Zenit. Os defensores, sob o comando dos mestres de campo Tristão da Cunha e Conde de Vilar Maior e do coronel James Apsley, repeliram uma sortida inimiga por aquele quartel.

Na manhã de 25 fez-se segunda chamada para as capitulações, ficando como reféns da parte portuguesa o sargento-mor de batalha Diogo Gomes de Figueiredo (filho) e António Soares da Costa, o “Machuca”, mestre de campo na província de Entre-Douro-e-Minho que se achava no Alentejo servindo como particular, e o tenente de mestre de campo general Louis de Clairan. E pela parte de Espanha, o mestre de campo D. Pedro de Afonseca, o coronel D. Francisco Franque e o capitão de cavalos D. Pedro da Rocha.

Os principais pontos acordados nas capitulações foram os seguintes: o governador (Conde de Sartirana) e toda a guarnição, oficiais e soldados de toda a sorte, qualidade e nação, sairiam pela brecha com as honras habituais nestas ocasiões, com suas armas, corda acesa e bala em boca, tocando caixas de guerra (tambores), e com suas bandeiras, com 8 cargas de munição, e toda a cavalaria com oficiais e soldados armados e montados; seriam enviados para a parte de Portugal que se lhes indicar, onde permaneceriam até ao fim da campanha, que seria em 15 de Outubro, na forma que se praticou com a guarnição de Juromenha. Se algum soldado quisesse incorporar-se no exército português, não seria impedido, e se algum oficial não quisesse ficar com a sua companhia, poderia retirar-se para Badajoz com suas bagagens e cavalos, para o que se lhe daria escolta pelo caminho mais rápido. Deram-se 2 peças de artilharia, à escolha do governador. Os enfermos e feridos iriam em carretas, e se fossem necessárias mais, se lhes dariam. Arrieiros e vivandeiros e todas as pessoas com ou sem praça deveriam sair com suas bagagens e não seriam molestadas. Poderiam sair 8 embuçados, para que fossem para Badajoz (pessoas que quisessem manter secreta a sua identidade, por terem estado envolvidas na tomada de Évora ou por serem espiões, evitando assim sofrer represálias). A toda a guarnição se lhe daria o sustento necessário enquanto estivesse neste Reino, tal como se usou no caso da tomada de Juromenha. Entregar-se-iam todas as munições, apetrechos e mantimentos que houvesse à ordem dos vedores gerais do exército do Alentejo.

As capitulações ficaram concluídas nesse dia. A 26 de Junho saiu de Évora, pela brecha que se havia feito entre as portas da Lagoa e Avis, o Conde de Sartirana com 3.800 infantes e 812 cavalos (que foram entregues ao general da cavalaria Dinis de Melo de Castro), e foram todos para Badajoz.

No mesmo dia entraram os portugueses na cidade e tratou-se logo de reforçar as defesas: pôr em condições de defesa o forte de Sto. António, fazer uma estrela no sítio dos penedos, fazer voar o Convento dos Calçados, terminar o baluarte de S. Bartolomeu e o da porta de Machede, e fazer um forte no Rossio de S. Brás, cujo centro era a dita ermida.

Imagem: Évora. A Porta da Lagoa na actualidade (2010). Fotografia de JPF.

Há 350 anos… Notas sobre a campanha do Alentejo de 1663 – o cerco de Évora, 22 e 23 de Junho

557174Ao dia 22 de Junho, o aproche que se ia escavando nas imediações da porta de Avis chegou bem perto da muralha. E não muito mais afastados se encontravam os que se aproximavam pelo quartel de Machede. A praça estava a ficar em grande perigo, mas os defensores, esperançados no socorro prometido, batiam-se com determinação.

Novo correio de San Germán para Sartirana foi interceptado no mesmo dia. Dizia ter-se perdido a 1ª cifra e mandava a 2ª em envelope com 3 selos. De resto, a carta era um duplicado da 1ª e exortava o Conde a defender a praça até perder a vida, prometendo de novo socorro.

Os espanhóis fizeram nova sortida, quando estavam na cabeça das trincheiras os terços de D. Diogo de Faro, Fernando Mascarenhas e Febo Moniz de Sampaio. Fizeram-no com infantaria e cavalaria, sendo de novo rechaçados pelo tenente-general D. Manuel de Ataíde, com 4 batalhões de cavalos apoiados por infantaria. A todas as operações deste aproche assistia o engenheiro-mor Luís Serrão Pimentel, mostrando com a prática o que havia ensinado com a especulativa. (Cunha, p. 70)

Do forte de Santo António começou o terceiro aproche, em direcção à porta da Lagoa. No sítio do Carmo mandou D. Luís de Meneses colocar uma bateria de 3 peças, que disparava contra aquela porta. Os espanhóis já sabiam da derrota do seu exército no Ameixial (os rumores corriam entre os soldados). Era altura de propor capitulações. Saiu a pedi-las o coronel D. Francisco Franque, mas os termos propostos por Sartirana não foram aceites.

No dia 23, da sua tenda no quartel da Corte, o Conde de Vila Flor escreveu uma carta a D. Diogo de Lima, Visconde de Vila Nova de Cerveira:

Senhor meu, muito devo aos castelhanos que estão em Évora por me ocasionarem a dita de ter a Vossa Senhoria tão perto, e lograr suas novas tão amíude, porque este é o meu desejo, crédito tem esta dívida, eu me acho de cama a que me obrigava grande carga de gota, mas sempre mui são para me empregar no serviço de Vossa Senhoria.

Os inimigos que se acham em Évora resistem quanto podem. Nós os atacamos como mais nos é possível e anteontem lhe assaltámos um forte de 4 baluartes que haviam feito no convento de Santo António, com linha de comunicação à praça, e ainda que o defendiam 400 soldados, o ganhámos com boa fortuna, matando uns e aprisionando outros com o sargento-mor que o governava, com o que nos fica mais fácil a empresa, e espero em Deus se conseguirá em breves dias, para que Vossa Senhoria tenha o gosto de ver a relação do sucesso. Guarde Deus a Vossa Senhoria como desejo. Campo sobre Évora, a 23 de Junho 663. (Biblioteca da Ajuda, cód. 51-VII-46, fol. 199)

Imagem: Assalto à artilharia, óleo de Philips Wouwerman.

Há 350 anos… Notas sobre a campanha do Alentejo de 1663 – o cerco de Évora, 20 e 21 de Junho

16490911droghedaA 20 de Junho começaram a disparar as baterias e a avançar os aproches. Faziam os quartos por 3 repartições e em 3 terços cada quarto. Coube o 1º pelo quartel da Corte a Sebastião Correia de Lorvela, Lourenço de Sousa e Miguel Barbosa; o 2º aos mestres de campo D. Diogo de Faro, Fernão Mascarenhas e Febo Moniz de Sampaio; o 3º aos mestres de campo Martim Correia de Sá, Roque da Costa Barreto (ambos fazendo um esquadrão), Jacques Alexandre de Tolon, Manuel de Sousa de Castro e José Gomes da Silva (que faziam outro). No quartel de Pedro Jacques se fizeram os mesmos quartos, tocou o 1º aos terços dos mestres de campo Bernardo de Miranda, Manuel Ferreira Rebelo e Simão de Sousa de Vasconcelos; o 2º a Tristão da Cunha, Manuel Teles (Conde de Vilar Maior) e ao coronel James Apsley; e o 3º ao terço de Francisco da Silva de Moura, ao regimento do tenente-coronel Thomas Hunt e ao terço de Francisco de Barros de Almeida.

A 21, ao amanhecer, ambos os quartéis tinham avançado bastante. O da Corte sofria bastante com esta glória, porque fazia este caminho por entre duas fortificações guarnecidas: o forte de Santo António e o baluarte de S. Bartolomeu. Na cabeça da trincheira, que se tinha fabricado aquela noite, havia já D. Luís de Meneses mandado fazer a plataforma da sua artilharia num reduto, em sítio mais próximo à muralha e onde o dano era maior.

O Conde de Vila Flor não consentiu que se trabucasse a praça, que como este género de instrumentos se inventaram para ruína das cidades e assombro dos moradores, a cidade era nossa para a não destruírmos, e os moradores assombrados andavam com o tirano presídio. (Cunha, pág. 62)

Neste dia 21 de Junho, estando de guarda os primeiros terços, fez o inimigo uma sortida. A infantaria susteve a sortida e a cavalaria carregou o inimigo, sob o comando do tenente-general D. Luís da Costa (mas na qual ia sem posto o tenente-general D. Manuel de Ataíde, por dúvidas que tiveram na precedência do comando). Com o exemplo de ambos chegaram os soldados até à barbacã, e deste recontro trouxeram duas milagrosas balas os tenentes-generais, que passando-lhes as poucas armas que levavam, pararam onde as não havia, se seus peitos não são mais impenetrável aço. Na mesma manhã se tomaram dois correios, um que vinha de Badajoz à praça com cartas do Duque de S. German para o Conde de Sartirana, e outro com cartas do dito Conde para o Duque. (Cunha, pág. 62)

Na noite de 21 de Junho determinaram assaltar os portugueses o forte de Santo António. O assalto foi feito por 200 infantes ingleses do regimento de Apsley, com o seu major John Belasyze, e com os capitães Nathaniel Hill, John Smith e Charles Langley; e 200 portugueses, com o sargento-mor Luís de Azambuja, dos terços dos mestres de campo Sebastião Correia de Lorvela e Lourenço de Sousa de Meneses, com os capitães Luís Álvares Pereira de Lacerda, Domingos de Carrião, Manuel Beirão e João Freire Coelho. Uma hora depois da meia-noite, ao sinal de duas peças que se dispararam na primeira investida, assenhorearam-se do forte, matando e prendendo os 400 soldados que o defendiam. Libertaram Manuel Corte Real, Presidente da Inquisição daquela cidade, que o governador da praça tinha mandado prender.

Ao estrondo que se fez durante o assalto ao forte saiu a cavalaria da praça, mas encontrou a resistência de 8 batalhões comandados por D. Manuel de Ataíde, que saiu a cobrir a infantaria. O inimigo recolheu à praça.

O ataque e contra-ataque foi narrado por D. Jerónimo Mascarenhas em pormenor. Assim, foram os ingleses cumprir as ordens recebidas muito a seu gosto e puderam constatar que todos os defensores do forte dormiam, até as sentinelas. A este aviso se preparou o assalto, dando a vanguarda a umas mangas da mesma nação inglesa, com ordem de abrir o caminho e ocupar, por segunda operação, o convento de Santo António como o mais preciso da empresa, pois com ele se impediria aos de dentro a retirada (…). Acercaram-se sem ruído, às doze [horas], ao flanco que tinham reconhecido, e penetrando o fosso e a estacada com o mesmo sossego, subiram ao parapeito (…). Então, rompendo o silêncio com bárbaros gritos e repetidas salvas, foram seguidos dos portugueses, que logo acudiram por todas as partes com a mesma facilidade. Assim ficou a gente espanhola, parte morta antes que desperta, e a demais, passando do sono ao terror e à confusão, fugiu sem armas até à cidade, sem se deter até à praça maior, onde (…) chegaram oficiais, e entre eles capitães, sem suas espadas, que as tinham largado para consegui-lo com mais ligeireza. O inimigo, vendo-os desaparecer tão depressa, teve lugar de alternar os mosquetes com os piques e estacas que sacava do fosso do forte para fortificar-se lá dentro. e quedando o convento em seu poder, lhe faltou pouco que fazer para esperar em boa forma aos que quisessem contestar a sua conquista. O governador encontrava-se no baluarte de São Bartolomeu como no posto mais ameaçado, à primeira notícia que teve da desdita mandou sair imediatamente o batalhão de guarda da porta de Avis com 150 alemães a pé, a quem assistiam em pessoa o coronel Barão de Carondelet e o Barão de Prancq seu tenente-coronel, juntando-se-lhes uma manga de italianos (…) com o capitão Pra, todos sacados do posto de São Bartolomeu, onde trabalhavam no contra-aproche (…). Era a ordem que levavam de passar ao convento, onde se supunha haver-se acolhido parte dos defensores com o sargento-mor, que não aparecia entre os da fuga, e prosseguir em limpar o forte dos inimigos, enquanto (…) se lhes enviava reforço de cavalaria com o comissário geral dela, e outro número da melhor infantaria. Porém a velocidade do sucesso e a disposição ajustada com que o inimigo soube aproveitar-se dele, atalhou o efeito a todas estas diligências. Chegaram os da saída até às ruínas do convento do Carmo, que os cobriam, e vendo a alguma distância atrás infantaria dobrada, que não se movia nem disparava, enviaram batedores a perguntar “quem vive?”, ao qual responderam “viva Espanha!”, convidando-os com esta astúcia a aproximarem-se. Avançaram com efeito até ao princípio da trincheira e quase até aos piques, onde toparam com uma salva tão pronta e numerosa de mosquetaços, que foi milagre não estropiar-se a maior parte. Perdemos então o capitão de cavalos D. Juan de Zurita e outros muitos feridos, com o que pareceu preciso retirar-se a gente a seus primieros postos. (Mascarenhas, fls. 50 v-52)

Naquele mesmo dia 21, o capitão Manuel Rosado, do terço do mestre de campo Sebastião Correia de Lorvela, assenhoreou-se do posto do Carmo. E pelo aproche que ia à porta de Avis, na mesma noite se aproximou do baluarte de S. Bartolomeu, com 150 mosqueteiros, o sargento-mor Manuel da Silva de Orta, do terço do mestre de campo Fernando Mascarenhas, e nele persistiu toda a noite, contra a resistência da praça.

Imagem: Infantaria inglesa em acção, 1649 (ilustração moderna, referente ao cerco de Drogheda, Irlanda).

Há 350 anos… Notas sobre a campanha do Alentejo de 1663 – de 17 a 19 de Junho

IMG_2822A 17 de Junho começou o Conde de Vila Flor a dividir o exército em dois quartéis para iniciar o sítio. O “quartel da Corte” (ou seja, o que compreendia o comando supremo) alojou em Valbom, quinta dos padres da Companhia de Jesus, pouco distante da muralha contra a porta de Avis. Tratava-se de um lugar coberto de algumas eminências. Neste quartel assistiam os oficiais superiores, com 1.200 cavalos à ordem do general da cavalaria Dinis de Melo de Castro e dos tenentes-generais D. Manuel de Ataíde, D. Luís da Costa e D. Martinho da Ribeira, e dos comissários gerais Duarte Fernandes Lobo e Matias da Cunha; e 5.100 infantes com os mestres de campo Sebastião Correia de Lorvela, Lourenço de Sousa de Meneses, Martim Correia de Sá, Roque da Costa Barreto, Manuel de Sousa de Castro, D. Diogo de Faro, Jacques Alexandre Tolon, Fernão Mascarenhas, Miguel Barbosa da Franca, Febo Moniz de Sampaio e José Gomes da Silva, e o sargento-mor Salvador Freire com o terço de Santarém.

O outro quartel ficou um quarto de légua contra a porta de Machede, numa colina que levanta ali o terreno, e este se entregou ao mestre de campo general da Beira, Pedro Jacques de Magalhães, com 1.100 cavalos à ordem do tenente-general D. João da Silva e dos comissários gerais João do Crato, D. António Maldonado e Gonçalo da Costa de Meneses; e 5.000 infantes dos regimentos ingleses e dos terços dos mestres de campo Manuel Ferreira Rebelo, Bernardo de Miranda, Manuel Teles da Silva (Conde de Vilar Maior), Tristão da Cunha, Francisco da Silva de Moura (comandado pelo seu sargento-mor Manuel de Sequeira Perdigão), Simão de Sousa de Vasconcelos (com o seu sargento-mor Simão de Miranda no comando) e Francisco de Barros de Almeida.

Os dias 18 e 19 foram passados a tratar da forma dos quartéis e disposição das baterias. Ganhou-se um casarão, perto da muralha, lugar capaz para uma bateria, pela acção do capitão João Porsenoost, do terço do mestre de campo Sebastião Correia de Lorvela, com 50 mosqueteiros a peito descoberto. Ganhou-o contra todas as defesas da praça e sustentou-o até se colocar a 1ª bateria, de 5 canhões, contra aquela cortina que compreende as portas de Avis e da Lagoa. Quatro peças disparavam do quartel de Pedro Jacques e batiam contra a muralha que está entre as portas de Machede e Avis.

Imagem: “O outro quartel ficou um quarto de légua contra a porta de Machede, numa colina que levanta ali o terreno (…)”. A fotografia mostra, ao fundo, a elevação a que se refere António Álvares da Cunha, observada a partir do edifício da Universidade de Évora. Foto de JPF.

Há 350 anos… Notas sobre a campanha do Alentejo de 1663 – de 12 a 16 de Junho

modern-impression-of-a-tercio-by-artist-cabrera-pec3b1a-source-magazine-desperta-ferroA 13 de Junho partiu de Estremoz o Conde de Vila Flor com 7.000 infantes, 2.000 cavaleiros e 18 peças de artilharia. Em relação ao exército que havia triunfado no Ameixial, a força que rumou a Évora estava diminuída em 5 terços e 5 companhias de cavalos, devido ao envio de tropas para guarnecer Campo Maior, Monsaraz e Portalegre e às que ficaram em Estremoz. Alojou na ribeira de Tera na noite de 13 e na Venda do Duque na noite seguinte.

A 12 de Junho tinha saído de Aldeia Galega (actual Montijo, na margem sul do Tejo) o Marquês de Marialva, pelo caminho de Évora. Comandava 3.500 infantes em 8 terços (dois deles comandados por sargentos-mores) e 300 cavalos em 4 companhias, além de 4 peças de artilharia. No dia 15 encontrou-se com o Conde de Vila Flor no rio Degebe. À chegada do Marquês fez o exército de Vila Flor as costumadas cortesias militares. Os dois exércitos, que tinham diferentes generais, passaram a formar apenas um, e o Marquês de Marialva cedeu o bastão de comando ao Conde de Vila Flor, que anos antes tinha sido seu subordinado. No final desse dia 15 acampou o exército nas cercanias do convento do Espinheiro, no mesmo local onde anteriormente ficara o exército de D. Juan de Áustria, na sua rota de retirada.

A 16 de Junho o exército português avistou Évora. Dinis de Melo de Castro conduziu toda a cavalaria à ocupação de postos no exterior da cidade, travando algumas escaramuças sem grande oposição por parte do inimigo. Este tratou só de defender o interior da cidade, cujas fortificações estavam todas defensáveis, pois tinham os ocupantes (e os moradores forçados) nelas trabalhado com bastante diligência.

O milanês Conde de Sartirana, apelidado de “Marte de Itália”, defendia Évora com 3.500 infantes em 8 terços, sendo que 4 eram espanhóis, 2 eram regimentos de alemães e 2 eram terços de italianos. O comissário geral do troço do Rossilhão, D. Carlos Tasso, comandava 800 cavalos. Havia 13 peças de artilharia.

A gente da cidade capaz de pegar em armas foi expulsa, incluindo os religiosos, de modo a fazer aumentar os abastecimentos disponíveis.

Imagem: Um terço espanhol em acção (anos 40 do século XVII). Desenho do ilustrador espanhol José Daniel Cabrera Peña.

Há 350 anos… Notas sobre a campanha do Alentejo de 1663 – de 9 a 11 de Junho

estremoz_JPF

Ao amanhecer de 9 de Julho partiu o general da cavalaria Dinis de Melo de Castro com 1.500 cavalos para o local por onde se retirou o inimigo, a recolher os despojos da campanha. Naquele dia, depois de todos darem graças a Deus pela vitória, começou-se a dar sepultura aos defuntos, que foram 7.033, o que levou António Álvares da Cunha a afirmar que muitos anos há se não viu em batalha na Europa tanto número de mortos (pg. 53). Destes, 1.500 portugueses. Foram imensos os despojos que repartiram entre si os soldados.

Não salvou D. João de Áustria desta batalha mais do que 2.000 cavalos e pouco mais de 500 infantes. A maior parte dos seus cabos foram muitos dias reputados por mortos, porque cada um se salvou por onde pôde, e apareceram em Badajoz dias depois.

D. Jerónimo Mascarenhas refere números diferentes para as perdas espanholas: O número dos soldados [feridos e capturados], bem contra o que publicaram os portugueses em suas relações, não passaram de mil, e quase igual foi o dos mortos, os mais [deles] da infantaria, como se pode coligir de uma mostra que três dias depois se tomou ao exército de Espanha nos campos de Arronches (fl. 37).

Terminadas as cerimónias da vitória, nesse mesmo dia 9 acampou o Conde de Vila Flor com seu exército junto às fortificações de Estremoz, onde permaneceu até dia 13. A notícia da batalha chegou a Lisboa na manhã de 10 de Junho, levada por Jerónimo de Mendonça Furtado. Deram-se graças a Deus em solenes procissões e sufrágios pelos mortos na contenda. Na Casa da Misericórdia fizeram-se as exéquias por todos.

Imagem: Fortificações de Estremoz, junto às quais acampou o exército português após a vitória na batalha do Ameixial. Foto de JPF.

Há 350 anos… Batalha do Ameixial, 8 de Junho de 1663

Não é este o espaço para tratar em profundidade uma das raras e mais importantes batalhas da Guerra da Restauração, sobre a qual decorrem hoje 350 anos. Continuo a trabalhar sobre a campanha de 1663, da qual a batalha do Canal ou do Ameixial (por vezes também recordada como batalha de Estremoz, sobretudo em documentos estrangeiros) constituiu o clímax, mas que não deve fazer esquecer a importância da tomada de Évora – então uma das principais cidades do Reino – por D. Juan de Áustria e a subsequente recuperação da urbe, após novo cerco, pelo exército português. Ao invés da repetição de narrativas de história-batalha respigadas das crónicas coevas, com pouca ou nenhuma investigação arquivística e nenhum esforço interpretativo, como infelizmente se pode encontrar em obras recentes, prefiro deixar maturar um trabalho que esteve para ir para o prelo há uns anos, continuando a ampliá-lo e a problematizá-lo com fontes nunca exploradas e bibliografia espanhola recente. A seu tempo voltarei a este assunto.

Será mais apropriado para o propósito de divulgação deixar aqui os escritos da época, pela pena de António Álvares da Cunha e D. Jerónimo Mascarenhas.

Começo pela narrativa de Cunha (pgs. 42-53, numa transcrição abreviada):

Era a campanha entre a vilas de Estremoz e a do Cano distante uma légua de ambas, não plana, porque quase toda por aquela parte é montanhosa. Ocupou o inimigo com a sua infantaria duas colinas e a pouca planície que havia entre uma e outra. Pelos costados estendeu a sua cavalaria, e a esta fomentavam alguns esquadrões de infantaria, que se formaram nas ladeiras das colinas que caíam para aqueles lados; entre esta infantaria acrescentava o número à vista, ainda que não ao proveito, um esquadrão na reserva, de três mil prisioneiros portugueses que saíram rendidos de Évora, os quais tiveram sempre metidos na Cartuxa, não curando mandá-los para Castela como eram as capitulações a respeito do nosso exercito vizinho.

O exército inimigo mudou a forma devido à falta da gente com que guarneceu Évora, e assim a 1ª linha da infantaria não tinha mais do que 7 esquadrões, o de D. Anielo de Gusmão e D. Luís de Frias tinha o corno direito, seguia-se-lhe o Conde de Escalante, a cujo cargo estava também o terço de D. Gonçalo de Córdova, morto no Degebe. O 3º era o de D. Rodrigo Moxica. O 4º de D. João Henriques e D. Lopo de Abreu. O 5º do Conde de Charni e do Conde de Losestain. O 6º do Marquês de Casin. O 7º de D. António Guindaço e D. Camilo de Dura.

Da cavalaria tinha a 1ª linha do corno direito da vanguarda 20 batalhões, os 4 das guardas dos generais e do tenente-general D. Diego Correa, 5 com o comissário geral D. Miguel Ramona, 5 com o comissário geral D. Luís de Sey e 5 com o comissário geral D. António Montenegro. A 2ª ala deste corno estava à ordem do tenente-general D. Belchior Porticarrero, tinha com a sua companhia 15 batalhões, porque 6 mandava o comissário geral D. João de Novales, 4 D. Josef de la Reatagui e 4 D. João de Ribera. A 1ª ala do corno esquerdo tinha o mesmo número que o direito, com o tenente-general D. António Moreira e os comissários gerais João Ângelo Valador e D. Francisco de Aguiar. A 2ª linha tinha a mesma igualdade que a do corno direito a que correspondia, a cargo do tenente-general D. Juan Jacome Mazacan e do comissário geral D. Hieronimo Garcia. Na reserva, que também tinha cuidado dos rendidos de Évora, estavam 12 batalhões com o comissário geral D. João Cortéz de Linhen.

Oito peças de artilharia em 4 postos coroavam as eminências; a retaguarda do exército cobria inumerável carriagem.

Imagem: Local onde se colocou, em formação de batalha, a maior parte da cavalaria de D. Juan de Áustria, na ala direita do exército, junto ao monte onde estava disposta a infantaria. A foto foi obtida no ponto por onde se estenderia a 1ª linha da cavalaria. As elevações eram, à época, totalmente desprovidas de arvoredo, como aliás ainda o eram no início do século XX. A densa vegetação que hoje cobre o terreno impede que se tenha uma percepção clara do espaço de cerca de 500 metros que separava os dois exércitos – a colina onde se formou em batalha a infantaria portuguesa mal é visível nesta foto, ao fundo, sobre o lado direito. Foto de JPF.

IMG_6233

Pouco diferente sítio coube ao nosso exército, pois sobre ganhar uma colina não eminente às do exército contrário, mas quase igual, se contendeu a maior parte da manhã, e à viva força chegaram a ocupá-la pelas 11.00 do dia o mestre de campo João Furtado de Mendonça com o seu terço, e o coronel James Apsley com o seu regimento. Nesta e nas planícies que se estendem por seus lados formámos o nosso exército sem mais alteração, que por ser a campanha pelo corno direito dele asperíssima, impossibilitando o manejo da cavalaria, se incorporou toda no corno esquerdo, ficando no direito só 5 batalhões à ordem do comissário geral Matias da Cunha. E porque se tinha tirado da 1ª linha para interpolar com a cavalaria o terço do mestre de campo Lourenço de Sousa, que depois ao dar da batalha tornou ao seu posto, puxaram da 2ª para aquele lugar com o seu terço ao mestre de campo D. Diogo de Faro e Sousa.

A mesma dificuldade de terreno achou o inimigo e usou da mesma união da cavalaria, deixando porém com menos número o seu corno esquerdo.

E por ser chegado ao exército o terço do mestre de campo Bernardo de Miranda, depois de o formar o reservou para a sua pessoa o Conde de Vila Flor, para o empregar aonde fosse maior a necessidade, e se incorporou na reserva. Era a crescença do dia, e a calma [grande calor] afadigava tanto aos soldados, que pareceu a todos não começar por então a atacar a batalha.

Estavam os exércitos propícios à contenda, quando D. João de Áustria mandou intimar por um papel aos seus cabos, e que eles o fizeram manifesto aos seus soldados, mostrando-lhe nele a razão que tinham pelejarem com aquela constância que esperava dos corações espanhóis, e como deviam entrar na contenda com as esperanças em Deus, e para que lhes fosse favorável encomendava a todos o interior arrependimento dos vícios, e a exterior satisfação deles, e como a causa era justa, assim esperava de justiça a vitória. Persuadia mais o papel a observância das ordens militares, e algumas não piedosas, pois ordenava se não desse quartel a ninguém na batalha, mais que ao general português [Conde de Vila Flor], dando sinais de sua pessoa, e prometendo premiosa sua prisão.

O que D. João de Áustria fez por um papel, obrou o Conde de Vila Flor por sua pessoa, e a esquadrão por esquadrão assegurou a todos a vitória, e animou à peleja, ainda que foi supérflua esta segunda persuasão, porque cada soldado se exortava a si próprio ao combate; mostrou-lhes a justiça que defendiam para ter propícia a vontade divina; a liberdade que nos usurpavam, para que fosse constante a peleja; os companheiros cativos, para que com ânsia os resgatassem; a campanha destruída, para que com raiva se satisfizesse; os despojos que levavam, para que o desejo os incitasse; as vezes que foram por nós vencidos, para que os desbaratassem com confiança. A estas razões exortatórias se seguiram as ordens militares, e dado o nome, que mais nos podia assegurar a vitória que muitas ordenanças, pois foi o da purissima Conceição da Virgem Santa, nossa padroeira e protectora deste Reino. Valorosa e porfiadamente esperavam todos o sinal da batalha.

Às três da tarde começou o exército inimigo dar mostras de querer retirar-se, e o podia fazer pelo caminho de Veiros a Arronches, deixando o nosso exército pelo lado direito; mas o Conde de Vila Flor entendendo esta resolução, mandou aos generais da cavalaria Dinis de Melo e Manuel Freire, começassem a atacar a batalha, que recebiam mais a ordem como alvitre aos seus desejos, que preceito a suas obediências. Opôs-se o inimigo valorosamente à resistência, e passando os nossos uma pequena sanja, começaram a travar a peleja. Era dobrado o número da cavalaria inimiga, assim foi forçoso que os generais fossem o maior exemplo para os soldados. Assistiam nesta refrega todos os cabos da cavalaria e demais a pessoa do mestre de campo general Pedro Jacques de Magalhães, e todos eram necessários, porque se pelejava pessoa por pessoa, esquadrão por esquadrão, linha por linha.

Não sucedia o mesmo à cavalaria castelhana, porque lhe faltava a pessoa do seu general, que como temos dito, exercia juntamente o posto de mestre de campo general; e enquanto assistia por este ofício à ordem do exército, faltava ao outro no combate da cavalaria, e se quisesse acudir a esta, áquele poderia suceder se desordenasse. Não sei a que attribua isto que seguem os mais dos governos do mundo, julgando um sujeito capaz de muitos lugares e os mais deles encontrados [quer dizer: contrários, em contradição].

Intercalo aqui a narrativa de D. Jerónimo Mascarenhas, vertida para português (o original encontra-se em castelhano):

Marcharam contra os espanhóis, com muito sossego, os seis batalhões [de cavalaria inglesa e francesa, pois foram os primeiros a entrar em acção] referidos, e com a própria gravidade as duas linhas que os seguiam, talvez para não cansar com o trote os infantes das mangas [isto é, as mangas de mosqueteiros e arcabuzeiros que os portugueses intercalaram entre os seis batalhões de cavalaria da vanguarda], e atacando os primeiros a outros tantos batalhões espanhóis do corno direito, que era o mais luzido da primeira linha (pois entravam neles as guardas de couraças e arcabuzeiros do Senhor Don Juan, compostas na maior parte de reformados escolhidos e soldados de satisfação), ao passar das armas de fogo às espadas logo se descompuseram. Culparam alguns da desordem a pouca prática do Marquês de Espinardo, seu capitão, que ainda que procurou luzir os brios do seu sangue e a circunstância de haver começado a militar com aquele emprego, não o pôde lograr senão com feridas mortais e perda de seu cavalo, ficando desbaratadas as suas tropas.

Com a mesma fatalidade e exemplar ao momento que com bem breve intervalo carregou a primeira linha dos portugueses, que seguiam os seis batalhões, toda a dos espanhóis caiu posta em fuga sobre a segunda e a desbaratou completamente. O Duque de San Germán via atónito este mau princípio desde o alto da colina, detrás do esquadrão do mestre de campo Don Anielo de Guzmán, que era o primeiro da vanguarda do corno direito, e querendo-o remediar, despachou de imediato um tenente de mestre de campo general, mandando que um terço só da infantaria italiana, que ocupava a retaguarda, baixasse a deter o ímpeto dos vencedores. E como ele destacou um terço só de um esquadrão que se compunha de diferentes terços, era operação que requeria mais tempo do que o apresto necessitava, voltou o mesmo [Duque de San Germán] a todo o galope para ordená-lo com mais eficácia em pessoa. Mas persuadindo-o a confusão que via de caminho naquelas tropas, que o caso não tinha remédio, tomou sem parar (senão para perguntar por guias) o caminho de Arronches, acompanhando-o o tenente de mestre de campo general Don Luís de Venegas, e alcançando-o pouco depois um mestre de campo e outros oficiais de menor esfera.

Imagem: A mesma colina, vista da planície onde se deu o choque das cavalarias, olhando a partir da ala direita para o centro do dispositivo inicial do exército espanhol. Sobre a esquerda, no alto da colina, estava o Duque de San Germán. Foi por esta encosta que desceu, em confusão, o terço de italianos. Para o lado direito desta foto, numa outra colina, ficavam as posições iniciais da infantaria portuguesa. Foto de JPF.

IMG_6234

Voltando ao texto de António Álvares da Cunha:

Enquanto as cavalarias contendiam tão fortemente, não estava ociosa a infantaria, nem a artilharia que a fazia empregar com todo o excesso o seu general D. Luís de Meneses. Era a 1ª linha muito larga, pela qual razão necessitava de mais cabos que a levassem em ordem, e por isso se encomendou o corno direito dela ao Conde da Torre, que governava a segunda, ficando governando o esquerdo André Furtado, que aquela manhã tinha chegado de Estremoz, para onde o tinha mandado o general na noite de 5, quando o inimigo se alojou no Espinheiro depois do recontro do Degebe, persuadindo-se poderiam os castelhanos ir com algum troço áquela praça, que estava a seu cargo. Em ambas as jornadas o acompanharam o mestre de campo Manuel de Sousa de Castro e Jerónimo de Mendonça Furtado.

Com a sobredita ordem abalou o Conde Schomberg à 1ª linha, e se resolveram os esquadrões a trepar pelas ásperas colinas donde estava formado o inimigo, e começaram pica a pica e corpo a corpo os portugueses a investir, e os castelhanos a defender. E vendo que em largas horas de combate se não conhecia diferença de vitória a favorecer ambas as partes, se abalaram ambas as segundas linhas, e porque a campanha era asperíssima, não conservavam aquela primeira forma estas batalhas, porque chegavam a contender primeiro aqueles esquadrões que acharam menos impedimento nos penedos, para não o acharem nos combates, com o que os esquadrões que governavam o Conde da Torre, que eram dos mestres de campo Sebastião Correia, Lourenço de Sousa de Meneses, Miguel Barbosa da Franca e D. Diogo de Faro e Simão de Sousa. Começaram a coroar a colina em que estava a artilharia inimiga, sendo o mestre de campo Simão de Sousa o primeiro que lhe pôs as mãos, donde saiu ferido de uma rigorosa bala, que quis com o seu sangue este dia esmaltar este sucesso, assim como com o seu voto sempre motivar esta vitória. E porque a 2ª linha castelhana, que estava favorecendo aquela parte, poderia ocasionar algum destroço, a carregou os batalhões que comandava o comissário geral Matias da Cunha, e esta cavalaria, com a infantaria que o Conde da Torre governava, achando pouca resistência na cavalaria inimiga que cobria aquele lado, obrigou a voltar as espaldas aos castelhanos, que os rompeu até à última fileira da sua segunda linha, sem resistir a esta fúria a mesma pessoa do seu generalíssimo, que por vezes se pôs a pé a ser companheiro de seus soldados. Estavam os nossos por esta parte tão avançados, que se enganavam os oficiais castelhanos, e muitos se aprisionaram, mandando por suas as nossas mangas, e um deles se chegou tanto ao Conde da Torre, que desconhecendo-o, o mandava como soldado seu, mas a obediência que esperava, foi contenda em que perecera se se não valera mais dos pés do cavalo, que dos braços próprios. Foi conhecido, e confessado pelos seus por tão grande pessoa, que se dissera neste papel o seu nome, a não se haver já dito a retirada.

Seguiam ao Conde da Torre em todas estas árduas contendas D. Pedro Mascarenhas e o mestre de campo Roque da Costa, já convalescido, cujo terço foi rendido em Évora, e nelas mataram o cavalo a D. Pedro, que entre todo o risco recobrou outro para continuar nos progressos da vitória.

Achou mais resistência a parte que mandava Afonso Furtado, que como tinha o seu lado coberto com a sua cavalaria, só pela frente era o combate. Os mestres de campo que contendiam por aquela banda eram Fernão Macarenhas, Tristão da Cunha, Francisco da Silva de Moura, João Furtado de Mendonça e o coronel James Apsley, que com o seu regimento sofrendo uma carga de um terço de espanhóis, que lhe ficou por frente, com o calor [ou seja: apoio] que lhe dava o mestre de campo Paulo Freire de Andrade com o seu terço, que pela razão sobredita se tinha adiantado da reserva, o degolou todo, sem que nenhum pudesse dar conta do sucesso. Contendiam os demais porfiadamente, e com o favor da nossa segunda, e terceira linha, ganhadas ambas as colinas e a artilharia delas, a mandou logo voltar contra o inimigo o general D. Luís de Meneses, que em toda a parte estava, e começaram a sentir a sua perda dos mesmos instrumentos que traziam para suas vitórias.

Desbaratadas de todo as primeiras linhas da cavalaria com perda considerável do regimento inglês, e com a morte do seu tenente-coronel Michael Dongan, puxou o general Dinis de Melo (que bem mostrou na fúria do combate o valor com que defendia o seu parecer, que foi sempre de que se esse esta batalha, e o mestre de campo general Pedro Jacques de Magalhães, já ferido em uma mão) pelo restante dela, e com valor e constância os meteram na peleja. Estava já ferido mortalmente pela cabeça com uma bala o general Manuel Freire, que lhe havia tirado de todo a fala, e ainda assim com os acenos mandava, e morreu 3 dias depois da batalha em Estremoz (tendo estado na campanha os tendo dias necessários à segurança dela).

Não havia já corpo de cavalaria de uma e de outra parte formado, mais que os batalhões da reserva, que mandava o tenente-general D. Manuel de Ataíde e os comissários gerais João do Crato e Gonçalo da Costa de Meneses, que ficando muitas vezes entre o inimigo, não descompondo nunca a forma, foi sempre ganhando terreno.

As tropas inglesas e francesas, obrando maravilhas, se avantajavam às portuguesas, senão no excesso do combate, na razão da peleja, que se os portugueses pelejavam pela vitória, também defendiam a liberdade, e eles só pela vitória contendiam, e tão bizarramente com o exemplo do Barão de Schomberg e seu irmão [filhos do Conde de Schomberg], nos quais se verificou aquele provérbio, que as águias não produzem pombas.

Obrou esta cavalaria e estes cabos e os fidalgos portugueses que assistiam naquele exército acções nunca vistas em nenhuma batalha, pois repetidas vezes os soldados soltos e desbaratados os encorporavam diante da reserva, e tornavam á contenda; e esta é a razão porque tão pouco número prevaleceu contra quase dobrada gente, pois foi cada batalhão várias vezes novo com multiplicadas forças.

Estava já o dia nas últimas horas quando o general Dinis de Melo, que desde as primeiras da batalha até aquelas estvera sempre diante dos seus batalhões, fazendo pelejar a todos, para concluir de todo com a vitória, ordenou ao tenente-general D. Manuel de Ataíde cerrasse com os três batalhões que conservava, com sete que ainda o inimigo tinha formados. E vendo o Conde de Vila Flor a disparidade do número, mandou o mestre de campo Bernardo de Miranda com o seu terço, conduzido pelo sargento-mor de batalha Diogo Gomes de Figueiredo, a quem havia dito por vezes que aquele terço lhe havia de dar a vitória, que carregasse rijamente aquela cavalaria. O que fez a tão bom tempo e com tão bom sucesso, que as cargas do terço, e a fúria com que o tenente-general os carregou, os obrigou a deixar o campo e a declarar-se a vitória por Portugal, a qual por espaço de meia légua foi aclamando o tenente-general entre os mesmos inimigos. Esta foi a celebrada vitória do Canal, que assim se chamava o lugar donde se conseguiu, tanto antes esperada dos portugueses; na qual os castelhanos perderam toda a sua infantaria, bagagem e artilharia, quarenta bandeiras, vinte estandartes, entre eles o do generalíssimo [D. Juan de Áustria], que um francês valorosamente tomou, apesar de quem o defendia (costumada é esta nação a alcançar estes troféus).

Imagem: Vista para a retaguarda do exército espanhol, a partir da planície (ala direita do exército espanhol, esquerda do português). A extensa carriagem de D. Juan de Áustria seguia pela estrada que serpenteava por entre as elevações que se vêem ao fundo, bem como os prisioneiros portugueses trazidos de Évora, que acabariam por ser libertados na confusão da fuga do que restava das forças invasoras. Foto de JPF.

IMG_6235

Imagem final: O monumento que marca o local onde se travou a batalha, na planície onde chocaram as cavalarias de ambos os exércitos, tal como hoje se encontra. Estando grande parte do terreno de batalha preservado – ou seja, não urbanizado -, é lamentável que não exista sequer um núcleo museológico ou um centro de interpretação.

No entanto, é com imenso gosto que actualizo a informação aqui constante: graças ao empenho pessoal do Dr. Alexandre Patrício Gouveia, da Fundação Batalha de Aljubarrota, os campos de batalha do Ameixial, Montes Claros e Linhas de Elvas foram classificados oficialmente como Património Nacional. Está assegurada assim a sua preservação e decerto surgirão aí, no futuro, os núcleos museológicos a que acima me referi.

Foto de JPF.

IMG_6236

Há 350 anos… Notas sobre a campanha do Alentejo de 1663 – de 5 a 8 de Junho

 

Aelbert_Cuyp_Descanso no acampamento, c1660 Musée des Beaux Arts, Rennes_X

Na noite de 5 para 6 de Junho alojou o exército português sobre as vinhas junto ao Degebe, começando a fortificar a posição, com a intenção de esperar naquele sítio todos os movimentos do inimigo, até chegar a ocasião da contenda. Porém, na manhã de 6 de Junho verificou-se que o inimigo se tinha posto em marcha.

Com toda a rapidez ordenaram Vila Flor e Schomberg que o exército marchasse, cortando pela estrada de Évoramonte, caminhando toda a noite, e a 7 de Junho se alojou diante do inimigo com as costas no rio Tera, que também o exército de D. Juan atingiu. Na manhã de 8 de Junho avistaram-se os dois exércitos.

Imagem: “Descanso no acampamento”, óleo de Aelbert Cuyp, c. 1660, Museé des Beaux Arts, Rennes.

Há 350 anos… Notas sobre a campanha do Alentejo de 1663 – 5 de Junho

IMG_2879

Às 5 da madrugada do dia 5 de Junho, coberto pelo fogo da sua artilharia, começou o exército de D. Juan de Áustria a baixar das colinas contra o exército português, para intentar a passagem do ribeiro, o qual, ainda que não levasse água, tinha algumas dificultosas abertas. (Cunha, pg. 39)

De acordo com D. Jerónimo Mascarenhas, o português havia gastado toda a noite a fortificar as margens mais expostas ao acometimento, e ocupado pela manhã cedo as passagens mais oportunas para embaraçá-lo e reprimir a vivacidade dos que o fossem atacar. O Senhor Don Juan, que bem supunha esta diligência nos contrários, fez avançar de manhã cedo as tropas em parte de onde não estivessem descobertas (…). Dali passou a dar vista sobre a mão esquerda ao rio, donde mais provavelmente julgava poder obrar, não o permitindo pelos bordos altos ocupados em frente pela artilharia e tropas inimigas, que a todo transe trabalhavam na sua trincheira, dominando o terreno oposto, onde precisamente haviam de dobrar os espanhóis, se queriam intentar passagem por aquele costado. Porém durante este intervalo (ainda que menos de meia hora) que passou este Príncipe naquele reconhecimento, acompanhado do Duque de San Germán, quis supri-lo cegamente o ardor do corno direito [da cavalaria], que não conhecendo a importância da dilação, se moveram os primeiros batalhões, sem que se haja podido averiguar depois com qual ordem, até à margem da ribeira, expondo-se ao fogo das peças e mosquetaria inimiga. Acudiu logo Sua Alteza ao ruído, sem poder remediá-lo antes que os tiros portugueses estropiassem até sessenta homens, e entre eles ao mestre de campo Dom Gonzalo de Cordoba, irmão do Duque de Sessa, e a outros três oficiais de suposição, que depois morreram em Évora de seus ferimentos. (Mascarenhas, fl. 28v)

A artilharia portuguesa fora colocada por D. Luís de Meneses em tão proveitoso sítio que não havia peça que jogasse tiro em vão (Cunha, pg. 39). Mesmo assim, apesar de considerável dano, continuaram a avançar os espanhóis. Travando-se a escaramuça, encontraram tão rija resistência pelo corno esquerdo da 1ª linha portuguesa, à ordem do mestre de campo general Pedro Jacques de Magalhães, que foram obrigados a desistir da empresa, recolhendo-se com perda até à margem do ribeiro.

Tentando outra passagem menos defendida, resolveu a cavalaria inimiga passar uma sanja não muito profunda, quando carregou contra ela o genera da cavalaria Dinis de Melo de Castro. Tocava aquela parte por aquele dia a Jorge Furtado de Mendonça, capitão de uma companhia de cavalos da província da Estremadura, que se bateu muito bem. (Cunha, pg. 40)

Avisado da determinação do inimigo, desfilou o Conde de Schomberg o exército pela outra margem do Degebe a impedir o posto que se imaginava ser investido. Já nele tinha plantado D. Luís de Meneses 5 meios-canhões. O inimigo sofreu ainda mais nesta segunda investida do que na primeira, e foi aqui que, segundo Álvares da Cunha, perdeu pessoas de conta como  o mestre de campo D. Gonçalo de Córdova, que o autor português identifica erradamente como filho do Duque de Sessa.

Frustrados por repetidas vezes estes intentos, o exército espanhol foi alojar na planície que domina o convento do Espinheiro. Dali foram enviados a guarnecer Évora 3.000 infantes e 800 cavaleiros. Ao amanhecer começou a abalar a sua retaguarda para a parte da Venda do Duque. A sua carriagem tinha marchado por toda aquela noite, com a vanguarda e a batalha, pelo mesmo caminho que havia trazido.

Imagem: Zona nas imediações do convento do Espinheiro, onde alojou o exército de D. Juan de Áustria na sua retirada de Badajoz. Foto de JPF.

Há 350 anos… Notas sobre a campanha do Alentejo de 1663 – 4 de Junho

painting1

No dia 4 de Junho, Vila Flor e Schomberg ficaram a saber que as tropas enviadas a Alcácer eram já recolhidas e as outras vinham pelo caminho de Montemor, a fim de se desviarem do exército, sendo impossível interceptá-las. Assim, nesse dia foi o exército português tomar quartel a Vale de Gramaxo, da outra parte do rio Degebe, contra Montoito, a 1 légua de Évora, sítio com comodidades para dispor um exército.

 Na tarde de 4 de Junho saiu de Évora o exército inimigo em batalha, nesta forma:

Vanguarda, 9 esquadrões, o 1º a cargo dos mestres de campo D. Anielo de Guzmán e D. Luís de Frias; o 2º a cargo de D. Gonzalo de Córdova e do Conde de Escalante; o 3º ao de D. Pedro da Fonseca e D. Juan Barbosa; o 4º ao de D. Rodrigo Moxica; o 5º ao de D. Ignacio de Alatriva, Rui Pires da Veiga e D. Joseph de Pinóz; o 6º ao Conde de Charni e D. Francisco Franqui; o 7º ao Barão de Carandolet e ao Conde de Losestain; o 8º ao Conde de Sartirana e D. Fabrizio Rosin; o 9º ao de D. Camilo de Dura e D. Márcio Origlia.

A 2ª linha repartia-se em 8 esquadrões. Destes, os comandantes eram: o 1º, os mestres de campo D. Lopo Gomes de Abreu e D. João Henriques; o 2º, D. Diego de Alvarado e Bracamonte e o terço de D. Francisco Tello, que não veio nesta campanha; o 3º de D. Juan de la Carrera; o 4º, D. Baltazar de Orbina e D. Diego Fernandez de Vera; o 5º de D. Francisco de Araújo, D. Gil de Villalva e os franceses de D. Jacques de Gomin; o 6º, Barão de Casestain; e por fim, o do Marquês de Cazin (um dos esquadrões é omitido). Total da infantaria: 15.612 oficiais e soldados.

 Os lados desta infantaria cobriam 20 batalhões por cada costado da 1ª linha, e 19 da segunda. A reserva constava de 12, quatro por cada lado e quatro atrás da bagagem. As companhias das guardas estavam entre as alas da infantaria. No corno direito as de D. Juan de Áustria, no esquerdo as do Duque de S. German. Governava a cavalaria da 1ª ala do corno direito o general D. Diego Caballero de Velásquez, o tenente-general da cavalaria D. Diego Correa e os comissários gerais D. Miguel Ramona, D. Luís de Sey e D. António Montenegro. O corno esquerdo da 1ª linha estava a cargo dos comissários gerais Juan Angelo Valador e D. Francisco de Aguiar, à ordem do tenente-general da cavalaria D. Alexandre Moreira. À 2ª ala do corno direito assistia o tenente-general da cavalaria D. Belchior Portocarrero, com os comissários gerais D. Juan de Novales, D. Joseph de la Reatagui e D. Juan de Ribera. A 2ª ala do corno esquerdo tinha a seu cargo o tenente-general da cavalaria D. Juan Jacome Mazacan e o comissário geral D. Hierónimo Garcia. As reservas estavam a cargo dos comissários gerais D. Carlos Tasso e D. Juan Cortés de Liña. Eram 94 batalhões com 6.300 cavalos. Havia 15 peças de artilharia.

O exército espanhol não fez mais do que avistar o português nos altos do Degebe, em cujas colinas colocou a sua artilharia e quebrou o sossego da noite com os seus tiros.

Fonte: António Álvares da Cunha, Campanha de Portugal pella provincia de Alemtejo, na Primavera do anno de 1663, Lisboa, Officina de Henrique Valente de Oliveira, 1663, pgs. 36-39.

Imagem: “Escaramuça de cavalaria”, óleo de Pieter Meulener.

Há 350 anos… Notas sobre a campanha do Alentejo de 1663 – de 1 a 3 de Junho

 

The-Ambush-large

O Conde de Vila Flor permaneceu no Alandroal de 25 de Maio até 1 de Junho, tendo incorporado os socorros de Lisboa (sob o comando do comissário geral Gonçalo da Costa de Meneses) e da Beira (comandados pelo general da cavalaria Manuel Freire de Andrade). Foi no Alandroal que tomou conhecimento da força de cavalaria e infantaria enviada por D. Juan de Áustria para Alcácer do Sal. Por isso decidiu partir apressadamemte rumo a Évora, procurando apanhar o inimigo dividido. Segundo a narrativa de António Álvares da Cunha (Campanha de Portugal pella provincia de Alemtejo, na Primavera do anno de 1663, Lisboa, Officina de Henrique Valente de Oliveira, 1663), como a campanha do Alandroal a Évora é capacíssima, marchou sempre o exército em batalha, na forma seguinte; a qual se guardou em todas as marchas, e sò no dia da batalha do Canal [nome pelo qual foi inicialmente conhecida a batalha do Ameixial] se alterou, como referiremos (p. 33).

O exército dividia-se em 20 esquadrões de infantaria e 64 batalhões de cavalaria. Na vanguarda marchavam 18 peças de artilharia de vários calibres com o general D. Luís de Meneses. A 1ª linha constava de 5.000 infantes em 9 esquadrões, que governavam os mestres de campo Sebastião Correia de Lorvela, Lourenço de Sousa de Meneses (Aposentador Mor de Sua Majestade), Miguel Barbosa da Franca, Fernão Mascarenhas, Simão de Sousa de Vasconcelos, Tristão da Cunha, Francisco da Silva de Moura, João Furtado de Mendonça e James Apsley, coronel de um regimento inglês. Esta linha ficou a cargo de Afonso Furtado de Mendonça.

A 2ª linha constava de 3.500 infantes em 8 esquadrões, comandados pelos mestres de campo Pedro César de Meneses, D. Diogo de Faro e Sousa, Jacques Alexandre Tolon (francês), Martim Correia de Sá, Alexandre de Moura, João da Costa de Brito, Manuel Ferreira Rebelo e Thomas Hunt (tenente-coronel do outro regimento inglês). Esta linha ficou sob o comando de D. João Mascarenhas, Conde da Torre e futuro Marquês de Fronteira.

A reserva constava de 1.500 infantes em 3 esquadrões a cargo dos mestres de campo Paulo de Andrade Freire, Lourenço Garcês Palha, Luís da Silva e António da Silva de Almeida.

Cobriam os lados da 1ª linha de infantaria 1.500 cavalos em 30 batalhões, 15 por cada parte. No corno direito estava o general da cavalaria Dinis de Melo de Castro com os seus tenentes-generais D. João da Silva e D. Luís da Costa e o comissário geral Duarte Fernandes Lobo. O corno esquerdo da cavalaria desta linha era comandado pelo general da cavalaria da Beira Manuel Freire de Andrade, com o seu tenente-general D. Martinho de Ribeira e o comissário geral Gomes Freire de Andrade.

A 2ª linha guarnecia o mesmo número, com a mesma ordem. Regia o corno direito o tenente-general da cavalaria D. Manuel de Ataíde e os comissários gerais João do Crato e Gonçalo da Costa de Meneses; e o esquerdo o comissário geral D. António Maldonado.

A reserva era coberta por 300 cavalos em 4 batalhões, comandados pelo comissário geral Matias da Cunha.

 A disposição de tudo estava à ordem do Conde de Schomberg, a quem assistia o sargento-mor de batalha João da Silva de Sousa e os tenentes de mestre de campo general António Tavares de Pina, Pedro Craveiro de Campos e Fernão Martins de Seixas, e reformados do mesmo posto os franceses Clairan e Balandrin.

O Conde de Vila Flor, como cabeça daquele corpo, acudia a toda a parte, assistido pelo sargento-mor de batalha Diogo Gomes de Figueiredo. No mesmo exército iam particulares, como Jerónimo de Mendonça Furtado, D. Pedro Mascarenhas e António Jacques de Paiva, este destinado ao governo de Monsaraz, mas que preferiu seguir com o exército, ajudando aqueles de quem tantas vezes fora companheiro em outras contendas.

Sexta-feira, 1 de Junho: o exército acampa a 2 léguas do quartel do Alandroal, contra o Redondo. Sábado, 2 de Junho: aquartelou no ribeiro de Pardielas, 3 léguas de Évora. Domingo, 3 de Junho: apresentou-se no decantado rego da Várzea em forma de batalha, já à vista da cidade de Évora. Neste ponto se incorporou o mestre de campo general Pedro Jacques de Magalhães, deixando em Campo Maior o terço do mestre de campo Bernardo de Miranda Henriques, que trazia consigo do partido de Penamacor. E porque a este posto se chegou tarde, não pôde o exército passar ao Azambujal do Conde, onde queria alojar naquela noite para cortar a gente que havia de vir de Alcácer, mandada regressar por D. Juan. Houve escaramuças, nas quais carregou com a sua companhia o Barão de Schomberg (filho do Conde de Schomberg), a quem tocava a guarda naquele dia, os batedores contrários, pondo-os em fuga. Toda aquela noite foi rigorosíssima de água, conservando o exército a mesma forma e o mesmo posto (Cunha, pgs. 33-36)

Por seu lado, D. Jerónimo de Mascarenhas refere que D. Juan, antecipando a chegada do exército português, mandara chamar a toda a pressa a Alcácer as tropas de Juan Jacome Mazacan. Porém, por causa da falta de disciplina e dos maus caminhos, não lhe foi possível chegar senão no domingo, bastante diminuída, cansada e dispersa por via da recolha dos despojos dos saques.

Imagem: “A emboscada”, óleo de Philips Wouwerman, in http://www.wouwerman.org