O objectivo desta pequena série de artigos é dar a conhecer o estado actual do campo onde se travou a batalha de Montes Claros. Recentemente considerado património nacional, graças ao empenho do Dr. Alexandre Patrício Gouveia e da Fundação Batalha de Aljubarrota, fica assegurada a sua preservação e abrem-se boas perspectivas para a construção de um núcleo museológico e interpretativo, a exemplo do que já existe em S. Jorge (batalha de Aljubarrota).
Todavia, muito está ainda por fazer quanto à interpretação da batalha. O estudo mais recente (Gabriel Espírito Santo, Montes Claros, 1665 – A Vitória Decisiva, Lisboa, Tribuna da História, 2005), conquanto tenha os seus méritos na maneira como procura integrar o acontecimento no contexto histórico-militar do período, falha precisamente no essencial: a identificação do terreno e a disposição das forças em confronto. Infelizmente, em alguma historiografia militar portuguesa tem existido a tendência para seguir à letra determinadas fontes narrativas sem as questionar, e descurando a pesquisa arquivística e o confronto com fontes históricas mais diversas. O resultado é a perpetuação de erros e mitos, que só um trabalho meticuloso de análise permite corrigir e desmontar.
Com este pequeno périplo pelo campo de batalha de Montes Claros, encetado no terreno há pouco mais de dois anos, tentarei justificar a minha interpretação acerca de onde e como se desenrolou a maior e mais importante batalha da Guerra da Restauração. Para estimular a curiosidade, deixo aqui, de momento, somente as primeiras fotografias, (retiradas do programa Google Earth). Os textos explicativos e a fundamentação do que aqui apresento irão sendo introduzidos a seu tempo.
Na primeira foto (Google Earth) assinalei a verde a marcha de aproximação do exército português comandado pelo Marquês de Marialva. A amarelo, a marcha que este general tencionava fazer com o mesmo exército rumo a Vila Viçosa, então cercada pelo exército espanhol sob o comando do Marquês de Caracena. Etapa que não chegou a efectuar-se, porque o Marquês de Caracena se antecipou na manobra e saiu ao encontro dos portugueses.
Na segunda foto, também de satélite, assinala-se:
– a amarelo, a marcha do exército espanhol comandado por Caracena, vindo de Vila Viçosa;
– a azul e a vermelho, as primeiras linhas do desdobramento inicial dos dispositivos português e espanhol, respectivamente (aqui apresentadas a título informativo, sem detalhe quanto às unidades ou à disposição da infantaria, cavalaria e artilharia, e omitindo as restantes linhas);
– o ponto vermelho assinala (aproximadamente, pois é impossível fazê-lo com exactidão) o local que o Marquês de Caracena escolheu para permanecer durante a batalha, na serra da Vigaira – à rectaguarda e sobre a direita do dispositivo espanhol; daí tinha uma excelente visão do campo de batalha, mas sem possibilidade de intervir prontamente e em pessoa na refrega, ao contrário do que sucederia com o Marquês de Marialva e o Conde de Schomberg;
– com letras, a referência dos locais por mim fotografados e que serão aqui publicados e identificados nas próximas entradas.