(continuação)
Os feridos e prisioneiros do inimigo, além dos que se foram render aos nossos lugares circunvizinhos, passam de quatrocentos os que mandamos a Badajoz e ficam nestes hospitais. Entre eles vieram os capitães de cavalos Dom Turíbio Pacheco, Dom Cristóvão de Obando, Dom Luís de Obando, treze tenentes, dezassete alferes e muitos reformados [oficiais que tinham cessado o serviço activo mas que se tinham realistado, por vezes como simples soldados].
Os mortos foram o Conde de Amarante, tenente-general da cavalaria, e os capitães Dom Guilherme Tutavilla, sobrinho do Duque de San Germán, Dom Sancho Perez de Villamizares, Dom João Sarmento e outros muitos oficiais menores vivos e reformados e fidalgos particulares que vinham na vanguarda.
Os corpos que se acharam no lugar donde se pelejou foram cento e oitenta e seis, além de muitos que se vão enterrando pelos matos e caminhos do alcance [com que foram mais de 300 em número – esta parte foi acrescentada na relação impressa].
Daqui se pode inferir os cavalos que o inimigo perdeu e nos ficaram, que ao menos hão-de ser tantos como os mortos e prisioneiros. Para se cobrarem, hei feito as diligências necessárias pelos lugares circunvizinhos adonde se levaram muitos e os mais trouxeram as nossas companhias.
As perdas que tivemos foram vinte e nove mortos [40 mortos, segundo a relação impressa], em que entraram o capitão Henrique de Figueiredo e Manuel Ribeiro, alferes de Tamericurt. Os feridos foram centro e treze [139, segundo a relação impressa], em que entraram o general da cavalaria, com uma estocada no lado e uma ferida no rosto, que lhe deram no primeiro choque, pelejando diante dos esquadrões da vanguarda; mas o maior dano que recebeu, sendo-o o das feridas grande, é haver-lhe passado por cima a cavalaria do inimigo e a nossa duas vezes, que foi milagre escapar; o comissário Rozier, com um pistoletaço na maçã do rosto; o capitão Francisco Pacheco [Mascarenhas – comandante da companhia onde servia o memorialista Mateus Rodrigues, que também ficou bastante ferido no combate, como já foi referido] com uma estocada, três capitães reformados de infantaria, Fernão da Cunha, Francisco Sodré e António Dias Cebolo, dois ajudantes de cavalaria, La Grezille e Diogo Rodrigues Tourinho, quatro tenentes, Bartolomeu de Barros.
São muitas e mui grandes as consequências que desta vitória se seguem pelo dano que recebeu o inimigo, perdendo a terceira parte da sua cavalaria e a confiança que lhe haviam dado os sucessos que em outros tempos teve contra a nossa e a com que ficaria se lograsse tão grade presa como havia feito, ficando destruídos os povos e os castelhanos ricos e cevados para outras. Mas sobretudo me parece que se deve estimar vermos luzido o trabalho com que se procurou reduzir a nossa cavalaria à forma e ordem com que hoje se acha, em que tudo consiste como nesta ocasião se viu e que eram bem necessárias as demonstrações que em outras fiz para que isto fosse assim.
O general da cavalaria procedeu com tão singular valor, prudência e arte, que deixou muito que invejar aos maiores generais do mundo. Com o mesmo acerto se houveram o tenente-general Tamericurt, os comissários gerais Duquesne e Rozier e todos os capitães, tenentes e alferes e soldados, cada um no que lhe tocava, de maneira que obrando todos singularmente, todos foram iguais.
Os cabos e oficiais e pessoas particulares que se acharam nesta ocasião são os que se seguem abaixo. Peço humilissimamente a Vossa Majestade, pelo muito que amo seu serviço e a grandeza de sua Real Coroa, mande ter com todos atenção que merecem, porque das mercês que Vossa Majestade lhe[s] fizer, há-de ver sempre mui seguros reconhecimentos para glória da Real pessoa e casa de Vossa Majestade, que Deus guarde, felicíssimos anos, como seus vassalos havemos mister.
Elvas, 12 de Novembro de 1653.
Imagem: Oficial de cavalaria em armadura de couraceiro (painel de azulejos do exterior do Palácio dos Marqueses de Fronteira e Alorna). Note-se o pormenor (correcto) de segurar a pistola de lado, deixando o mecanismo de fogo ao alto, para se assegurar a ignição da pólvora por percussão do cão na panela. Introduzidos de facto na orgânica da cavalaria portuguesa em 1645, os cavalos couraças raramente usaram a armadura que a figura representa. Somente em ocasiões de batalha campal algumas companhias da guarda dos generais se equipavam desta forma, embora fosse bastante comum oficiais superiores e generais usarem armadura de couraceiro. Foto de JPF.
Prezado, tenho grande admiração por seu trabalho. Gostaria de perdi-lhe a sua ajuda para elucidar uma questão. Busco saber o local e data de falecimento do mestre de campo Álvaro de Azevedo Barreto, que pelejava no norte de Portugal e faleceu em torno de 1661 e 1662. Tenho reunido documentos acerca dos últimos passos de Barreto, sem grande sucesso. Gostaria de saber se poderia lhe enviar por e-mail as informações que possuo. Caso sim, como posso lhe contactar? Um abraço cordial.
Caro Licínio Miranda,
Muito agradeço as suas simpáticas palavras.
Quanto ao local e data do falecimento do mestre de campo Álvaro de Azevedo Barreto, terei de procurar num dos livros de registo da Secretaria de Guerra, numa das minhas futuras pesquisas no Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Não tenho, nos meus ficheiros, a informação que procura.
Posso apenas adiantar que foi nomeado mestre de campo de um dos terços pagos (ou seja, do exército profissional) da província de Entre-Douro-e-Minho em 8 de Fevereiro de 1659, tendo comandado anteriormente o terço de Auxiliares de Santarém (uma unidade de segunda linha e de uma cidade distante dos palcos de operações). Segundo o historiador Gastão de Melo de Matos, terá morrido nos finais de 1661 ou inícios de 1662. Mas só mediante consulta da referida fonte poderei estabelecer a data exacta (se constar nos documentos).
Ficar-lhe-ei muito grato se me puder facultar, via email, as informações relativas ao seu antepassado.
Com os melhores cumprimentos,
Jorge P. Freitas