Em torno das noções de fidelidade e de identidade no contexto da Guerra da Restauração

nrdlingenterciotorralto

No momento em que se aproxima mais um final de ano, começo por agradecer aos amigos Juan Antonio Caro del Corral e Julián García Blanco, que tão generosos têm sido na oferta de preciosa documentação para os meus trabalhos em geral e para a continuidade deste blog em particular. Um grande bem haja a ambos! Agradecimentos que estendo a todos quantos têm colaborado, directa ou indirectamente, para a continuação deste espaço, através de comentários e sugestões.

Uma das últimas ofertas que me chegou por via de Julián García Blanco foi um artigo de Antonio José Rodriguez Hernández, intitulado Nación, Fidelidad y Frontera durante la Guerra de Restauración de Portugal (1640-1668), comunicação apresentada às XII Jornadas de Historia en Llerena (sob o tema geral: “España, Nación y Constitución y otros estudios sobre Extremadura”).

Trata-se de um artigo com muito interesse, debruçando-se sobre as mudanças de campo de portugueses e espanhóis durante a Guerra da Restauração e as suas motivações. Todavia, gostaria de enumerar alguns pontos em relação aos quais não estou em sintonia com as conclusões do autor. Em primeiro lugar, a generalização algo arriscada de que foram em maior número as deserções portuguesas para o campo oposto do que as espanholas. Não contesto esta opinião por qualquer preconceito de índole nacionalista, mas muito simplesmente porque não há dados quantitativos sólidos que permitam tecer uma conclusão tão peremptória como aquela. Seria necessário compilar, de uma maneira minuciosa, e comparar posteriormente toda a documentação referente a episódios de deserção para o campo inimigo. Tarefa que, não sendo impossível de concretizar, não é de maneira nenhuma fácil, tendo em conta a falta de dados quantitativos objectivos acerca deste fenómeno. É diferente ter uma intuição de base empírica, de fundamentar uma conclusão assente em dados concretos.

Em segundo lugar, coloco algumas reservas em relação à terminologia utilizada, nomeadamente quanto  de forma ao conceito de ideologia. Tendo em conta a estrutura mental e conceptual da época, aquilo que hoje em dia podemos considerar como ideologia era praticamente monopolizado, no século XVII, pelas concepções religiosas – com destaque óbvio para a divisão entre as várias crenças monoteístas (cristianismo, islamismo, judaísmo), e de forma mais aguda, no período em causa e na Europa ocidental em particular, no que respeita às diversas maneiras de exprimir a religião cristã, com o confronto aberto desde o século XVI entre o catolicismo e as Igrejas reformistas. Curiosamente, era este um dos aspectos que mais aproximava os campos em confronto (portugueses e espanhóis), em contraposição a alguns dos seus aliados, nomeadamente os holandeses e ingleses (e alguns franceses) que vieram para Portugal ajudar a combater os exércitos de Filipe IV.

Por fim, há que ter em conta que não era só a nação de origem – para utilizar um termo em uso na época – ou a religião que contavam como elementos polarizadores da noção identitária. O sentimento de fidelização a um soberano e os interesses pessoais e particulares (que, embora de forma muito diferente, tinham expressão em todas as categorias sociais) eram muito importantes. Será aí que devemos procurar, em primeiro lugar, a explicação para a manutenção de fidelidades de portugueses ao soberano espanhol e vice-versa, por ocasião do rompimento da monarquia dual. A guerra que se seguiu quebrou equilíbrios e vivências de décadas, particularmente sentidas nas fronteiras agora de novo demarcadas e em ebulição. E se em alguns casos se manteve a cooperação entre as populações (por vezes, em oposição às próprias forças militares), em muitos outros se verificou uma verdadeira guerra de vendetta e de rivalidades locais.

Estes breves reparos não pretendem beliscar o estudo meritório de Rodriguez Hernández, mas tão somente contribuir com alguns pontos de vista diferentes para a problemática. Curiosamente, entre os nomes que o autor refere, de espanhóis que permaneceram fiéis à Coroa Portuguesa após a Aclamação, falta um bem importante: o do sargento-mor Antonio Gallo, que serviu no exército do Alentejo entre 1641 e 1644 e que, já avançado em anos e doente, em 1645 se aposentou, fixando residência na ilha Terceira. Foi autor do tratado militar Regimiento Militar, que trata de como los soldados se hande governar, obedecer, y guardar las ordenes, y como los oficiales los han de governar (Lisboa, Paulo Craesbeeck, 1644). Também Domingos da Ponte, o Galego, que viajou para Portugal com D. Francisco Manuel de Melo (o prolífico literato – não confundir com o homónimo que comandou as forças espanholas na batalha de Rocroi) e muitos ex-combatentes portugueses do exército da Flandres, foi outro oficial que ganhou notoriedade ao serviço de Portugal. De resto, as mudanças de campo eram muitas vezes motivadas por questões pessoais, sobretudo crimes cometidos num dos reinos e em relação aos quais o indivíduo procurava escapar à justiça régia. O mestre de campo napolitano D. Pedro Opecinga trocou o exército espanhol pelo português por via de um caso desses, tal como o fez outro mestre de campo, D. Sanchez del Pozo (referido no artigo de Rodriguez Hernández). Entre os oficiais de menor categoria – tanto no que respeita à patente como ao estrato social – e sobretudo entre os soldados, as necessidades que padeciam na zona de guerra eram muitas vezes determinantes para a deserção em direcção ao território do inimigo. Todavia, como procurei demonstrar em O Combatente da Guerra da Restauração, este fluxo era o menos importante de todos os destinos da deserção, que se dirigia, principalmente, para as terras de origem dos militares foragidos.

Dois casos referidos no estudo merecem uma menção particular. O capitão de cavalos português ao serviço do exército espanhol João Dias de Matos, desertor em 1657 e responsável pela conquista de Olivença nesse ano, não seria propriamente um exemplo de fidelidade a uma causa. É mencionado em várias fontes portuguesas, entre as quais o Memorial de Mateus Rodrigues. Enquanto furriel de cavalaria, foi um dos espiões infiltrados em Badajoz, aquando da fracassada tentativa portuguesa de tomar aquela importante praça de armas pela traição em 1652. Foi tenente da companhia de D. Luís de Meneses e a deserção em 1657 terá sido motivada pelo descontentamento com a sua situação e pela ambição em alcançar mais altos voos. Tratava-se de um aventureiro, como outros havia em ambos os exércitos. Acabou mal, tendo sido capturado por militares portugueses em 1660 e enforcado.

O outro caso, porventura mais interessante, é o do capitão de cavalos Manuel Vaz. Rodriguez Hernández refere-o como Manuel Báez e cita-o como exemplo de um dos casos em que uma companhia inteira teria desertado. Passo a transcrever uma parte do artigo, pois complementa o que a documentação portuguesa refere acerca deste oficial:

En 1660 toda una compañia de caballería portuguesa se pasó al bando español. Para conseguirlo el capitán de lamisma, Manuel Baéz, inventó una argucia para evitar los recelos de sus superiores. Con la escusa de disponer una fiesta con su familia en una ermita cercana a Campo Maior, el capitán llevó a su compañia como convoy sin ser advertido, pasándose a los españoles con su familia y parientes, pero también con la mayor parte de sus soldados. Éstos no conocían el designio de su capitán, por lo que algunos se resistieron, trabándose una pequeña escaramuza con las tropas estremeñas que salieron a recibirlos. En total cerca de 40 personas cambiaron de bando, estando entre ellos la mujer del capitán, su cuñado, varios primos del capitán y otros familiares y adeptos. En Portugal Manuel Báez dejaba 6.000 ducados de hacienda, por lo que fue recompensado con nuevos puestos en el ejército y diferentes ayudas de costa, algo que se extendió a sus parientes. (pg. 72)

Manuel Vaz era um oficial muito capaz e de boa reputação, destacando-se pelo menos desde os inícios da década de 50 como valente militar, quando servia como tenente de cavalos na companhia do capitão João da Silva de Sousa. A ele se refere com admiração Mateus Rodrigues, nas suas memórias. Já como capitão, continua a receber elogios, como se vê numa carta de Joane Mendes de Vasconcelos de 18 de Setembro de 1657, a propósito de uma escaramuça nos arredores de Campo Maior. O que levaria um oficial veterano com tal folha de serviços a desertar e a deixar para trás tão valioso património? Muito simplesmente: para escapar às garras da Inquisição. Manuel Vaz era cristão-novo e estava na iminência de ser preso pelo Tribunal do Santo Ofício. Daí o acto desesperado de sair em segredo de Campo Maior com 31 familiares, incluindo mulheres e crianças, em 21 cavalos da sua companhia (a carta do Conde de Atouguia para o Conselho de Guerra, de 13 de Fevereiro de 1660, descreve em pormenor o sucedido; cf. Cartas dos Governadores da Província do Alentejo…, publ. por P. M. Laranjo Coelho, Lisboa, 1940, vol. III, pg. 11). A acusação de heresia, no caso vertente por alegadamente seguir a religião judaica em segredo, podia ter consequências terríveis. Que o diga Jácome de Melo Pereira, também ele veterano capitão de cavalos do exército do Alentejo, condenado à fogueira e executado em Évora pela Inquisição em 1666.

Imagem: Combate entre cavalaria e infantaria. Ilustração moderna, representando um confronto do período da Guerra dos 30 Anos.

La frontera cacereña ante la Guerra de Restauración de Portugal: Organización defensiva y sucesos de armas (1640-1668) – artigo de Juan Antonio Caro del Corral

Com os agradecimentos ao estimado amigo Juan Antonio Caro del Corral, aqui fica o seu magnífico artigo, que estou certo será lido com muito interesse. Para aceder, basta clicar na ligação e será descarregado o respectivo ficheiro PDF.

ARTICULO GUERRA PORTUGAL

Imagem: “Combate de Cavalaria”, óleo de Joseph Parrocel.

Pequenas escaramuças no Alentejo, Maio e Junho de 1646 – uma adenda de Juan Antonio Caro del Corral

O estimado amigo Juan Antonio Caro del Corral fez o obséquio de acrescentar ao anterior artigo mais alguns dados, enviados sob a forma de comentário, mas que devido ao interesse inerente passo a colocar aqui sob a forma de artigo. Ao Juan Antonio renovo os agradecimentos pela sua sempre pronta colaboração.

Cierto. 1646 fue año que no sólo estuvo protagonizado por el suceso de Telena y el intento sobre Salvaterra do Extremo (el primero en la provincia alentejana, y el segundo en la de Beira)

Estoy de acuerdo contigo cuando hablas sobre los incidentes cotidianos, la denominada guerra a pequeña escala que fue, realmente, la que mayor daño y fatiga causo a los habitantes de uno y otro lado de la Raya fronteriza.

Ericeira, y otros autores, algunas veces nos refieren estos hechos, aunque normalmente se fijan más en los de mayor envergadura. Por fortuna, para enmendar ese silencio informativo, nos queda el relato de testigos anónimos que, incluso, participaron en esos encuentros y escaramuzas de segundo nivel, gracias a lo cual podemos conocer de primera mano la letra menuda de la historia.

Al efecto de la entrada que los castellanos hicieron en términos de Olivenza la mañana del 28 de mayo del año citado, y para situar mejor el escenario de lo acontecido, quiero aportar algunos datos tomados de una carta que el marqués de Molinghen, autoridad que por entonces comandaba el ejército, dirigió a los ministros de la corte madrileña.

Esta misiva, aparte de informar de lo que pasaba en la frontera pacense, quería responder a las constantes críticas que sobre el mal uso de la caballería se vertían cada día. Así el mlitar valón explicó abundantemente cómo trabajaban los montados y el premio que obtenían en sus correrías y que, por lo tanto, no todo eran sinsabores, tal como señalaban los enemigos políticos del marqués.

Pues bien, la escaramuza oliventina de aquel lunes de finales de mayo, ocurrió casi pegada a los muros de la ciudad, en la zona que actualmente se conoce como Charca de Ramapallas, a 1,5 kms del núcleo fortificado urbano, en dirección este, mirando al camino de Valverde de Leganés.

Desde aquí la partida castellana fue extendiendo su cabalgada de pillaje, dibujando un arco que, orientado hacia el sur, pasaba por los olivares llamados de Santa Catalina, bajo vigilancia de la atalaya de San Jorge, situada en las primeras estribaciones montañosas de la Sierra de Alor; y en sentido contrario, al norte, buscando el refugio de la Sierra de Doña María, a cuyos pies se encuentran algunos cortijos y casas de campo, como La Sancha. Un radio de acción campestre en torno a las 1600 hectáreas, dónde los caballistas encontraron una importante presa de ganado lanar y vacuno.

Y en relación al convento que se cita en la narrativa, posiblemente se trate de las ruinas de dos ermitas ubicadas en uno de los extremos de dicho arco; concretamente de las dedicadas a San Francisco y San Lorenzo, por debajo de los olivares de Santa Catalina, y justo enfrente de la mencionada atalaya de San Jorge.

O sea, una más de las rutinarias acciones de castigo. Desdeluego que no fue la primera, ni tampoco sería la última de aquel 1646. Mediado junio, hubo nuevos altercados. Pero ya antes de la correría de mayo, los castellanos también habían ganado, en otras acciones similares, setenta y dos monturas.

Después de estas incursiones, lo de Telena y Salvaterra estaba ya próximo a aparecer en el calendario guerrero.

Pero éstas, y algunas otras, son otras historias.

Juan Antonio Caro del Corral

Imagem: Planta de Olivença, segundo uma impressão francesa do início do século XVIII. BNL, secção de cartografia, CC29P.

Ainda a propósito do 1º de Dezembro de 1640 – uma relação do sucedido, datada de 5 de Janeiro de 1641 (por Juan Antonio Caro del Corral)

Semanas de muito trabalho não permitiram que tivesse actualizado o blog desde o primeiro dia do mês. Nessa ocasião, recebi um comentário do estimado amigo Juan Antonio Caro del Corral, no qual dava a conhecer uma relação de um clérigo espanhol que contava, em Badajoz, as notícias do sucedido em Lisboa cerca de um mês antes. Pelo muito interesse que este documento tem, aproveito para o publicar aqui, com os devidos agradecimentos.

RELACION DEL PADRE FREY ANTONIO SOBRE LO QUE PASSO EN LISBOA

Aquí a llegado el Padre Fray Antonio de Herrera […] y le dixese las cossas siguientes:
Lo primero que los auctores del levantamiento de Portugal fueron el montero mor del Reyno porque V Maga le auia quitado ser señorde las coytadas y porno poderse vengar se aconsejo con su hermano, el cual fue a la çiudad de yelues y hablo con el obispo della llamado Manuel de Acuna, el qual fue a Villaviciosa y persuadio y propusso al Duque de Bergança quisiese ser Rey de Portugal y sacarlos de captiuerio de sesenta y dos años: y el dicho montero mor fue a Don Antonio Mascareñas el solo ylo comunico con el, elqual con don Anton de Almada, y don Miguel de Almeida coronel moradores del Roxio, y conjurados todos cada uno porsi procurara cathequizar tantos caualleros desu parte; y para tratar desto se hacia junta en cassa de Don Juan de Acosta, menino que fue de la Reyna nuestra Señora, y a veçes en el Collegio deSanct Roque delos padres de la compañía. Y aueindo llegado a Don Juan de Sossa aproponerle el dicho levantamiento dizo que no vendia su entendimiento porcossa alguna, por l qual unos votos quefuese muerto a puñaladas, y viendo la deliberacion y aquerdo: Don Gaston Coitino uno de los cathequiçados y agresores de la muerte del secretario Miguel de Vasconçelos dijo salia por fiador de que porel no serian descuviertos; y llegando al dicho don Nuno Aluarez apersuadirle fuesse de su facçion rrespondió que llegando auer el pan que comia la hacienda y la honrra que adquiria todo empeçaua Don P He por la gracia de Dios, yque ansi no queria ser ingrato a quien tantas mercedes le auia hecho […]
Que llegado el dia del levantamiento, Don Francisco de Sossa, sobrino del Conde de Prado, yerno de Don Fernando Mascareñas como estaua presso en el castillo de San Jian el yua aplicando y juntando todos los caualleros, losquales por tres veçes qestuuieron desavenidos, y entonçes el coronel Don Miguel de Almeyda, y Martim Alfonso de Melo estando con sustambores a las escaleras de Palacio mandaron tocarlas sacando el estoque D. Miguel de Almeyda diçiendo ea caualleros noes tiempo agora dedesmayar, y le acompañaron Don Gaston Coitino, Don Francisco Barrabas, Don Juan hijo del Conde de PeñaGion, su cuñado el Conde de San Miguel, y fueron, y hiçieron la muerte del Secretario Miguel de Vasconçelos; y Tristan de Acuña conotros suspaniaguados se fueron al quarto de su Alteça yle pidieron de almorzar, apoderandose de las puertas donde dezaron guardas, y mataron al corregidor Françisco Suarez deArbenguia qe acudio a fauoreçer a su Alteça.
Fue fecha la relaçion a 5 de 1641, Badajox y henero

Imagem: “Felipe IV”, por Velasquez.

Un Combate en las orillas del rio Caya, junto a los muros de Badajoz (14 de março de 1643) – por Juan Antonio Caro del Corral

Mais uma vez o estimado amigo Juan Antonio Caro del Corral deixa aqui a sua colaboração – que só não pude inserir mais cedo por motivos profissionais, os quais me mantiveram demasiado ocupado nestas últimas semanas. O meu muito obrigado!

La historia se olvida pronto, al menos aquella parte de la misma que se escribió en letra pequeña, lejos de los grandes acontecimientos. Sin embargo la importancia de éstos cuan poca sería sin la existencia de aquellos sucesos de menor envergadura que, uno a uno, dan lugar a los fastos más voluminosos. La intrahistoria, que diría un erudito de antaño.
En más de una ocasión han surgido en las páginas de este foro varias de esas “pequeñas historias”, sacándolas de la oscuridad y del olvido. Valga esta que ahora traemos a la memoria como una nueva gota para colmar el vaso.
Pocas referencias dejó en los memorialistas. Salvo el Conde de Ericeira, en su Historia de Portugal Restaurado, apenas encontramos mención alguna; quizás Ayres Varela aborda con más profundidad el relato. De todos modos, ambas son visiones subjetivas, pues, sin restarles importancia, cuentan el acontecimiento desde el punto de vista portugués. Para intentar acercarnos a la verdad siempre es conveniente, en la medida de las posibilidades, contrastar datos.
Tenemos la oportunidad de hacerlo en esta ocasión pues, afortunadamente, aún se conservan algunos documentos que, si bien de manera breve, cuentan lo sucedido desde la visión castellana.
Sin más preámbulos, viajemos hasta aquel lejano sábado, 14 de marzo de 1643.
Por entonces gobernaba las armas de Badajoz don Juan de Garay y Otañez, mientras que frente a él, en el lado portugués, ejercía interinamente el maestro de campo Joane Mendes de Vasconcelos, que sustituía al Conde de Óbidos, verdadera cabeza de mando militar en la provincia alentejana.
Finalizados los rigores del crudo invierno, que apenas habían dejado maniobrar a las tropas, en cuanto hubo mejoría climatológica comenzaron a planificarse acciones de guerra. Como era habitual, más que estrategias arriesgadas, se trataba de pequeños choques militares, pero que a base de repetirse con frecuencia, mermaban las fuerzas de ambos bandos.
De aquel modo quiso Vasconcelos probar el poder castellano, para lo cual reunió 600 caballos y 2000 infantes (que las fuentes documentales castellanas cifran en 700 y 1500 respectivamente). A los primeros puso bajo órdenes de Rodrigo de Castro, en tanto que él se quedaba con el resto de soldada. El plan era urdir una emboscada, para lo cual Rodrigo debía llamar la atención de la gente de guerra que se acuartelaba en Badajoz, haciéndola salir tras él hasta llegar al punto dónde esperaba escondido Joane Mendes.
Mientras el maestro de campo quedaba con el grueso en un valle situado entre el puente sobre el río Caya y la ciudad pacense, lugar conocido hoy como Céspedes, o Monte das Caldeiras, Rodrigo y los suyos adelantaban sus pasos para acercarse casi a tiro de mosquete de las murallas castellanas.
Dice el conde de Ericeira que “D. Rodrigo mandou cuarenta cavalos que carregasen as sentinelas até a ponte que remata na porta de Badajoz”. Y así fue. Dada la voz de alarma, mandó Garay salieran en pos de los atacantes 200 caballos y 800 soldados; pero alguien debió intuir el engaño que tramaba el rival, porque en vez de perseguir a los cuarenta jinetes, se dio el alto justo antes de que se llegará a las proximidades dónde Joanes y los suyos estaban dispuestos a atacar.
Quedaron quietos los castellanos, ocupando unas trincheras naturales en espera de los nuevos movimientos portugueses. Entonces Rodrigo de Castro comenzó a ponerse nervioso, viendo que no era capaz de atraer a la celada a su contrincante. Sin pensar detenidamente las consecuencias, arriesgo a su gente, ordenando que volvieran las grupas y marcharan contra la tropa extremeña, por ver si de esta forma los hacía salir definitivamente de su escondite.
Joane, pensando en un mal menor, apoyando a su compatriota, también hizo avanzar a buena parte de sus hombres, yendo en retaguardia de la avanzada de Castro. Con esta táctica pudieron los oficiales castellanos valorar las fuerzas del enemigo con mayor exactitud. Y, tras el recuento, hechos sus planes, lanzaron la contraofensiva.
La mitad de la infantería salió al encuentro portugués, mientras que el resto seguía guarnecida en las trincheras del terreno circundante. La tropa lusitana creyó ahora que su plan cobraba efectividad, y se fraguó un violento choque de milicias durante unos quince minutos.
Transcurrido aquel intervalo de tiempo, comenzaron a retirarse los castellanos sin perder la espalda al enemigo, pero buscando atraerles hacía dónde esperaban el resto de compañeros y caballería extremeña. Y en esta ocasión la emboscada urdida sí dio el efecto deseado.
Los portugueses se vieron muy pronto rodeados por toda la tropa de Garay, y en cuanto tuvieron oportunidad comenzaron a retirarse de forma desorganizada, buscando cada cual su seguridad.
El seguimiento de los huidos no quiso profundizarse; al menos esa era la orden dada por Garay. Pero, a pesar de ello, no pudo impedir que algunos grupos de exaltados soldados continuaran el alcance. Sobre éstos desgraciados fue en los que cayó el resto de milicia lusitana que aún tenía escondida Mendes en los cerros del Caldeiras.
La visión de la campaña era un verdadero revoltijo de tropas: unas que peleaban en el centro, otras que huían desbandadas; en esos momentos, Garay ordeno que un grupo se apostará en el puente del Caya, cerrando el paso del Camino Real, ya que era de la opinión que entre aquel desorden quizás se intentase abordar las puertas de la ciudad. Pero no ocurrió nada semejante. La soldada bastante tenía con salvaguardar la vida en la escaramuza junto al río.
Poco a poco todo fue concluyendo, y al comenzar a caer la tarde apenas quedaban vestigios del enfrentamiento militar habido unas horas antes. No obstante se pusieron vigías, pues alguien había dicho que se esperaban socorros lusitanos procedentes de Olivenza. Pero no hubo mayor novedad.
Los partes del suceso señalaron que los atacantes habían perdido doce hombres, siendo prisioneros otros cinco. En el bando castellano las bajas fueron similares, si bien se considero una victoria a su favor.
Así termino una más de aquellas escaramuzas que tanto pesaron sobre la vida cotidiana de los moradores de la raya fronteriza. Escaramuzas que pasaron sin pena ni gloria, y de las que hoy apenas queda memoria alguna, salvo ligeros apuntes en viejos libros y legajos polvorientos. Muchas más quedan por referir.
Pero esa es otra historia.

Imagem: Wallenstein na Guerra dos 30 Anos, pintura de Ernest Crofts (1847-1911).

Uma escaramuça em terras de Riba Coa, 1642 – por Juan Antonio Caro del Corral

Enquanto os afazeres profissionais não me deixam actualizar o blogue com a regularidade desejada, aqui vos deixo mais uma interessante colaboração de Juan Antonio Caro del Corral – originalmente um comentário a esta entrada, mas que merece o devido destaque em artigo próprio. Os meus agradecimentos ao Juan Antonio, especialista na investigação histórico-militar da fronteira da Beira. Em breve darei mais um contributo sobre esta fronteira, com a colaboração do estimado leitor JCPort, que teve a amabilidade de me endossar alguns documentos, e a quem aproveito para agradecer.

UNA ESCARAMUZA EN TIERRAS DEL RIBACOA

1642 fue un año muy pródigo en sucesos militares. Salvo en algunas ocasiones puntuales, que obligaron a que el número de tropa reclutada alcanzase notabilidad, la mayor parte de los acontecimientos no fueron más que pequeñas incursiones enmarcadas en la denominada “guerra de frontera”, dónde el pillaje primaba sobre cualquier otro objetivo. Así, las pretensiones no eran conquistar pueblos y aldeas, sino que lo verdaderamente interesante era obtener un cuantioso botín, el cual se repartiría posteriormente entre todos los implicados en el ataque, atendiendo, como es lógico, a su categoría dentro del estamento militar.

Estas acciones, llamadas unas veces “de course”, en otras “escaramuzas”, o simplemente “de castigo”, al desarrollarse con frecuencia, producían un doble efecto en quienes más directamente las sufrían: los vecinos de los lugares atacados.

Por una parte éstos veían mermadas sus pertenencias, que eran robadas e incendiadas por los agresores; y en segundo lugar, la moral también decaía considerablemente, pues apenas había tiempo de recuperación entre un ataque y el siguiente. En definitiva, consecuencias físicas y psicológicas.

Un claro ejemplo de estas incursiones y sus resultados negativos,  fue la realizada sobre Villanueva del Fresno en el citado 1642, cuyo desarrollo ha sido debidamente tratado en uno de los capítulos de este blog histórico-militar. Pero, como dijerá párrafos atrás, ése no fue el único acontecimiento de aquel año.

Bajo las pautas que caracterizaban a las escaramuzas y que ya han quedado expuestas anteriormente, poco después del suceso de Villanueva, tuvo lugar un hecho que causó gran conmoción al ser debidamente publicitado tras su conclusión. Tuvo lugar en tierras de la Beira Alta, concretamente en la comarca llamada popularmente Ribacoa.
Limitaba esta zona con la frontera mirobrigense, gobernada por el Excelentísimo señor Duque de Alba. Este general llevaba ya un tiempo meditando una entrada en campo enemigo, sobre todo porqué, en los meses precedentes, los lugares de su jurisdicción más próximos a la Raya divisoria (Aldea del Obispo, Fuentes de Oñoro, La Fregeneda….)  habían sido objeto de duras acciones represivas por parte de los portugueses de la mentada región beirense.
Así pues, era opinión del Duque lanzar un ataque en venganza del daño recibido.

Combinando sus movimientos con los realizados por otras tropas de la frontera pacense, que a su vez tenían intención de atacar en la frontera sur al objeto de dividir a las posibles fuerzas defensoras lusitanas y facilitar con ello el éxito del de Alba, mándo éste reunir un potente ejército poniendolo a las órdenes de sus dos mejores oficiales: Juan Suárez de Alarcón, más conocido por su noble título de Conde de Torresvedras, y Alvaro de Vivero, mano derecha principal del Duque.

Así, con 1200 infantes y 500 caballos, más otras gentes procedentes de Valladolid y Salamanca, se pusieron en camino ambos comandantes el día 17 de octubre de 1642.

Cruzaron la frontera por los vados situados junto a la localidad de San Felices de los Gallegos, encontrándose frente a su posición una vasta campiña cuajada de alquerias, aldeas y villas que, desconociendo el peligro que sobre ellas se cernía, tenían sus campos, ganados y haciendas totalmente descuidadas. Sin duda un inmejorable botín para los castellanos.

Comenzo la escaramuza sin hallar oposición. Dividióse al efecto en dos grupos el ejército invasor. Uno atacó la banda derecha y el restante la izquierda.

Escarigo, lugar de apenas 200 vecinos y con sólo un retén de 60 soldados, fue el primero en conocer la rapiña de los hombres comandados por el Marqués de Creche, comisario general de la caballería castellana. Del incendio se salvó unicamente la iglesia.

Siguieron la estela de Escarigo las villas de Vermiosa, Almofala, Colmeal y Torre dos Frades. En esta última hicieron noche para descansar y reponer fuerzas la gente de Torresvedras y Vivero.

A la mañana siguiente, 18 de octubre, continuó la cabalgada saqueándose el poblado llamado Mata de Lobos, dónde dieron muerte a ocho vecinos que huían cargados de ropa, pan, vino, trigo y otros enseres.

Para entonces los únicos que se habían atrevido a detener la invasión fueron unos jinetes procedentes de la plaza amurallada de Castel Rodrigo, aunque no tuvieron fortuna en su intento, teniendo que retirarse al galope.

El ejército castellano, pese a todo, no se detuvo, y se presentó al mediodía ante las puertas de Escalhao, sin equivoco la población más importante y rica de cuantas se habían hallado en su avance.

Toda la vecindad (más de 600 personas), ante el aviso de que llegaba el invasor, estaba recogida en la iglesia, convertida en una auténtica fortaleza. Fue responsable de la defensa de la misma el sargento Joao da Silva Freio, al mando de 35 soldados.

Soportaron el asedio castellano muchas horas; incluso acabaron con la vida de varios militares. Cuenta la tradicción escalonense que un hombre del lugar, de nombre Janeirinho, armado de valor y coraje, enfrentándose a un capitán que pretendía entrar en el reducto religioso, logró acabar con la vida del agresor al tiempo que gritaba enardecido”… Viva o Janeiro com a sua porra…”.

Leyendas aparte, lo cierto, según los documentos conservados, es que los castellanos, viendo la imposibilidad de tomar la iglesia y faltándoles munición y víveres para seguir su correría, optaron por finalizarla, regresando aquella misma tarde a sus cuarteles de Ciudad Rodrigo.

Consigo llevaron muchas cabezas de ganado, gran bulto de ropa, utensilios varios y otras menudencias que la soldada obtuvo en los saqueos de los pueblos atacados.

Habían vengado de esta forma las afrentas recibidas, satisfaciendo los planes del Duque de Alba. Objetivo cumplido.
Así fue y así terminó una de las muchas acciones de guerra que tuvieron como escenario a la frontera extremeña-portuguesa. Era sólo el segundo año de conflicto, y quedaban aun por cumplirse veintiséis campañas más.

Pero eso es otra historia.

JUAN ANTONIO CARO DEL CORRAL

Imagem: “Escaramuça de cavalaria”, por Pieter Meulener.

O assalto a Oliva, 8 a 11 de Janeiro de 1654 (2ª parte)

A propósito de Oliva de la Frontera, Juan Antonio Caro del Corral enviou esta ligação para um artigo online de Alfonso Gil Soto, intitulado “El impacto de la Guerra de Secesion Portuguesa (1640-1668) en los territorios de la Extremeña: el caso de Oliva de la Frontera” (in Alcántara, 2001, pgs. 53-54):

http://ab.dip-caceres.org/alcantara/alcantara_online/53_54/53_54_006a.htm

Ao amigo Juan Antonio agradeço, mais uma vez, a sua oportuna colaboração.

Prossigamos a narrativa, seguindo as memórias de Mateus Rodrigues. Com tudo acertado para a operação, o terço de Moura começou a reunir mantimentos para 8 dias. Todas as bestas da vila de Moura, em número de 1.000, foram requisitadas para puxarem as carroças e transportarem os mantimentos e as munições, para além das que os soldados levariam em mochilas (designação dada na altura a grossos sacos usados a tiracolo). Tudo isto foi feito com o sigilo possível, para não despertar qualquer desconfiança no inimigo. O ponto de reunião das forças de cavalaria com a infantaria de Moura seria a vila de Mourão.

Dia de Reis, que foi em 6 de Janeiro de 1654, saiu o nosso general André de Albuquerque da cidade de Elvas pela manhã, pela porta da esquina fora, com duas companhias de cavalo, que era a sua e a minha (…), e com duas peças de artilharia de 24 libras cada uma, e quando saímos (…) não havia ninguém que soubesse para onde marchávamos (…). Havia um rumor de que levávamos aquelas peças para o castelo de Vila Viçosa e que ia lá o general para as mandar pôr, (…) e quando lá chegámos já não havia quem não soubesse que íamos a Castela, mas não adonde.

No dia 7, pela manhã, as duas companhias de cavalos formaram em frente à estalagem onde o general tinha pernoitado, e daí seguiram para Mourão, onde chegaram já de noite e onde já se encontrava D. Manuel de Melo com o seu terço. Os soldados de cavalos tiveram de suportar uma noite bem fria e chuvosa de Inverno, muito mal acomodados ou ao relento, pois os alojamentos (as casas dos moradores da vila) estavam já todos ocupados pelos soldados de infantaria e as cavalariças pelas bestas de carga do terço.

Na manhã do dia 8, a força seguiu pela estrada de Vilanova de Portugal (Villanueva del Fresno), percorrendo duas léguas até se reunir ao terço de Manuel de Saldanha e à cavalaria de Olivença. Segundo Mateus Rodrigues, o total das cavalgaduras que acompanhava o pequeno exército era de 3.000, mais do que o número de tropas pagas que ali marchava – uma cauda logística bem extensa. Em Vilanova tiveram pouco tempo para descansar e comer, pois a etapa até Oliva, onde tinham de chegar antes do amanhecer, ainda era longa (mais de 4 léguas e mau caminho para a infantaria, que não podia ir formada, nem a cavalaria tampouco). A coluna demorou bastante tempo a formar; a cavalaria toda na vanguarda (1.400, segundo Mateus Rodrigues, mais cem do que D. João da Costa aponta na sua carta), a infantaria (1.500 homens) na retaguarda, e toda a carriagem e cavalgaduras no meio. Em grande silêncio prosseguiu a marcha, passando a ribeira de Alcarrache, uma légua depois de Vilanova, e continuando por azinhais. A precaução destinava-se a não serem sentidos, mas bem podíamos ir com toda a galhofa e bulha, pois o inimigo estava de aviso. Com efeito, na sua carta o Conde de Soure refere que no dia 8 tinha o inimigo uma partida sobre Mourão, a qual, vendo marchar a nossa gente, avisou a sua, com o que nos esperavam recolhidos no castelo com as armas nas mãos. Mateus Rodrigues acrescenta mais detalhes: tinha sido o tenente Marim, com 10 cavaleiros, quem tinha detectado a força portuguesa, e à rédea solta correra a avisar as gentes de Oliva. E suposto que o inimigo já tinha parte do fato metido no castelo, assim como o tenente chegou e deu aquela triste nova, enquanto tiveram tempo meteram tudo quanto puderam no castelo, e deixaram as casas só com as paredes e alguma caixa vazia, e (…) meteu-se toda a gente dentro no castelo, e não deixaram fora mais que trinta homens e a companhia de cavalos que estava na terra. O capitão, que Rodrigues reputa de grande soldado, e antigo, tinha ido comandar as companhias de Talavera (até nisto foi o nosso general bem afortunado, pois se este capitão não tivesse sido transferido e estivesse dentro do castelo, nem o poder do mundo o havia de tomar, porque era homem do diabo e muito valente, chamava-se D. Diego Quexada). Mas era agora o tenente Marim que comandava a cavalaria. Este, logo que caiu a noite, meteu a sua mulher na igreja com as demais mulheres da vila e partiu com os seus soldados para uma ermida de Nosso Senhor que fica em um outeirinho junto da mesma vila, e daí lançou sentinelas para detectar a progressão da força portuguesa.

A um quarto de légua de Oliva, André de Albuquerque fez adiantar a cavalaria, para que fossem tomadas todas as vias de entrada e saída da vila. O general da cavalaria pensava que havia duas companhias de cavalos em Oliva, mas de facto, apenas ali servia a do tenente Marim – e mesmo essa fez o oficial espanhol retirar para Jerez de los Caballeros, não sem antes alertar os soldados que estavam de guarda na trincheira de que os portugueses se aproximavam.

(continua)

Bibliografia: Livro 2º…, pgs. 41-42; MMR, pgs. 369-374; veja-se a 1ª parte desta série para as referências completas.

Imagem: Oliva. Planta publicada em La memoria ausente. Cartografia de España y Portugal en el Archivo Militar de Estocolmo. Siglos XVII y XVIII. O outeiro onde se situa a ermida referida no texto é visível no canto superior direito da planta. Ao contrário do que eu tinha aqui escrito ontem, a colina visível no canto superior direito do mapa não se trata do outeiro da ermida, mas sim de “el Moriscote”. Veja-se o comentário nº 1, do Sr. Andrés Francisco Perez Cuecas (a quem eu agradeço a colaboração), para o completo esclarecimento.

Em torno da operação da ponte de Alcântara, Março de 1648 – por Juan Antonio Caro del Corral

Como já vem sendo hábito, o estimado amigo Juan Antonio Caro del Corral achou por bem dar o seu contributo sobre o recente artigo a respeito da operação da ponte de Alcântara. Aqui fica, com os meus agradecimentos, a sua colaboração.

Marzo de 1648 fue buena época para el clamor de las armas en la frontera. Apenas comenzado dicho mes, en la comarca defendida por la plaza de Valencia de Alcántara, hubo una sangrienta disputa en la cual los castellanos perdieron 20 soldados. Para responder aquella agresión, desde Badajoz se formó un grueso de tropa que entre el 15 de marzo y el 21 de abril, corrió la campiña de Elvas y sus alrededores; incluso tuvieron tiempo de subir en ayuda de la Raya norte, dónde el ingenio de don Sancho Manuel, general de la provincia beirense, había planeado un ataque para conquistar la agreste posición de Alcántara y su famoso puente romano.


El asalto al puente de Alcántara comenzó en las primeras horas del día 24 de marzo. Al llegar a su objetivo, las tropas de don Sancho Manuel, que habían salido la noche antes desde la plaza fronteriza de Segura, se situaron al pie del denominado Cerro de las Vigas, en la orilla derecha del río Tajo, haciendo frente al acceso principal del puente. El defensor de la villa alcantarina, don Simón de Castañiza, ya tenía preparadas algunas prevenciones para intentar repeler el ataque, pues durante la noche precedente había recibido avisos de movimientos enemigos en las proximidades. El combate fue muy intenso, perdurando hasta las dos de la tarde del día citado. A lo largo de esta jornada, Castañiza envió peticiones de socorro, primero a las poblaciones más cercanas (Brozas, Garrovillas y Arroyo de la Luz), y en última instancia a Badajoz, dónde la noticia llegó en la madrugada del 25. Desde aquí el gobernador interino al mando, don Alonso Dávila, instó a las principales plazas fuertes de la provincia ayudasen en todo lo necesario para levantar el cerco sobre Alcántara; por otra parte él mismo comenzó a organizar soldada para enviarla a dicho lugar. Mientras tanto, Guislain de Bryas, Marqués de Molinghem, avanzaba desde el norte cacereño reclutando más tropas. Los primeros refuerzos llegaron la misma tarde del 24; pero fue durante los días siguientes cuando llegó la mayor parte de la ayuda solicitada por Castañiza. Además, en la frontera de Ciudad Rodrigo, su gobernador, el capitán Francisco de Rada, organizó algunas correrías para llamar la atención del enemigo, intentado que con esta táctica de desvio los sitiadores abandonasen sus propósitos de tomar Alcántara. En un principio parece que la estratagema tuvo resultado, pues Sancho Manuel retiró a sus hombres; pero fue un falso movimiento pues en la noche del 25 ordenó volver a atacar el puente. En esa madrugada los portugueses lograron ganar la mitad del mismo. Desde esta aventajada posición, a partir del día 26 los atacantes se afanaron en colocar minas para volar la fábrica sobre el río Tajo. Don Simón de Castañiza intentó frenar aquellos trabajos, pero dada la carestía de munición y hombres, espero mejor ocasión. Transcurrieron lentamente tres nuevas jornadas, hasta que al atardecer del 29, habiendo tenido noticia don Sancho Manuel de que el Marqués estaba cerca de Alcántara acompañado de mucha gente de guerra, decidió retirarse definitivamente no sin antes dar fuego a la pólvora colocada en el puente. Reventó de esta forma el primer arco, dejando inutilizado el paso. A la mañana siguiente las tropas llegadas desde Badajoz, comandadas por don Juan de Santano, comprobaron los efectos de la mina, poniéndose de inmediato a arreglar los desperfectos construyendo un levadizo de madera en el lugar que anteriormente ocupará la parte volada del puente. En tanto Molinghem, que también había llegado con su gente, se dedicó a cubrir los vados del Tajo para evitar que los portugueses reiniciaran el ataque. Paralelamente, Sancho Manuel envió a Joao de Almeida a quemar las barcas que transitaban en dicho río. A pesar de que los dos cuerpos de milicia llegaron a verse, no hubo combate.

En cambio sí se planteó escaramuza unos días antes, concretamente el 26, cuando la tropa que desde Badajoz subía en auxilio de Alcántara chocó, en las márgenes del Gévora, con otra de seiscientos caballos lusitanos, cuya misión era cortar citados socorros. Se saldó con victoria castellana; de ese modo Santano pudo continuar sin problemas su camino hasta la villa alcantarina, tal como ya hemos comentado anteriormente.

Sancho Manuel quedo bastante satisfecho de su acción, y aunque no consiguió tomar la plaza, al menos por un tiempo logró que los pueblos situados al otro lado del Tajo, como el caso de Zarza la Mayor, Ceclavín y otros, tardaran en recibir refuerzos. Gracias a ello, salvaguardada su retaguardia, en el mes de junio hizo una entrada en tierras castellanas, logrando arrasar varias aldeas del alfoz cauriense. Ese fue el final de la primera parte de la campaña militar de 1648. Mediado septiembre comenzarían de nuevo las hostilidades.

Pero eso es otra historia.

JUAN ANTONIO CARO DEL CORRAL

Imagem: Soldados do período da Guerra Civil Inglesa; reconstituição histórica em Old Sarum, Inglaterra, inícios da década de 90. Foto de J. P. Freitas.

O Marquês de Torrecuso – por Juan Antonio Caro del Corral

No seguimento da listagem dos capitães-generais da província de Extremadura (Espanha), Juan Antonio Caro del Corral fez um longo comentário a propósito do Marquês de Torrecuso que, pelo seu interesse, é aqui destacado em artigo próprio. No final, acrescentei uma pequena transcrição do Manuscrito de Matheus Roiz a respeito do mesmo general.

Muy eficaz el listado de Capitanes Generales de Extremadura. A fin de profundizar algo más en la figura de aquellos soldados, sirva este ligero apunte sobre el Marqués de Torrecuso.

MARQUES DE TORRECUSO, CAPITAN GENERAL DE EXTREMADURA

Gerolamo Maria Caracciolo, III marqués de Torrecuso. Natural del Reino de Nápoles, fue un afamado militar que estuvo a las órdenes de la monarquía castellana, ocupando puestos de responsabilidad al frente del ejército imperial. Antes de llegar a Extremadura, destaco en la Guerra de Cataluña, dónde perdió a uno de sus hijos. También estuvo presente en el conflicto de los Treinta Años, llegando a vencer a las tropas francesas en la batalla de Fuenterrabía, librada en 1638.

Dada su condición italiana, no es de extrañar que junto a Torrecuso, llegaran muchos soldados de la misma nacionalidad. Entre estos cabe citar a Giovanni Giacomo Mazzacani-Maza, más conocido entre la tropa con el nombre castellanizado de Mazacan. Fue destinado al distrito cacereño de Alcántara-Sierra de Gata, tomando bajo su mando directo la guarnición existente en Zarza la Mayor.

Volviendo a los rasgos biográficos de nuestro personaje principal, fue el 8 de marzo de 1644 cuando Torrecuso hizo entrada en la ciudad de Badajoz, para hacerse cargo, con el pomposo título de Capitán General, de la defensa de toda la frontera extremeña.

Sustituyó al odiado Marqués de Santisteban, cuyo gobierno había provocado gran rechazo no sólo entre la tropa, sino en los propios habitantes de la región.

Torrecuso venía precedido de una aureola de gran militar y estratega, siendo su nombramiento del agrado de la mayoría de oficiales del ejército, el cual se encontraba en una situación bastante penosa, pues sus anteriores responsables se habían ocupado más de enriquecerse personalmente que de dirigir a la soldada.

Por el motivo anterior, el primer empeño del Marqués fue realizar una reforma general con la cual buscaba organizar adecuadamente a sus subordinados. En este sentido fue el primero que incluyo compañías de infantería a caballo, creando también el puesto de sargentía menor en cada uno de los tercios que componían el llamado Ejército de Extremadura.

Con estas labores pronto se gano la simpatía general y, en comparación con su predecesor, se llegó a decir “… i quanto a su antecesor el Conde de Santisteban desestimauan por su facilidad, tamto al Torrecuxo temian i respetauan por su entereça i valor…”.

Fue mucho el trabajo que el nuevo gobernador militar tuvo en su tiempo de mandato. La guerra en 1644 se recrudeció bastante, y las noticias de escaramuzas portuguesas en tierras extremeñas no dejaron de llegar, día a día, a la sede central de Badajoz.

Ejemplo de aquellos sucesos cotidianos para la gente de frontera los encontramos en la zona norte de la Raya, colindante con la Beira Baixa. Fue aquí dónde poblaciones como Membrío y Zarza la Mayor conocieron la crudeza de la guerra, al ser atacados en los meses de abril y mayo respectivamente.

Las armas castellanas de Torrecuso respondieron a aquellas y otras agresiones, con entradas en territorio lusitano, siendo la frontera pacense el escenario elegido para ello. Así, sitios como Ouguela vieron correr por sus campos a la caballería extremeña en más de una ocasión.

Sin duda alguna el momento álgido del gobierno de Torrecuso acaeció el día del Corpús, 26 de mayo, junto a las llanuras de la localidad de Montijo, muy cerca de Badajoz, lugar en el que se libró la que se considera primera batalla de la Guerra de Restauración.

El resultado del combate fue ambiguo, pues los dos bandos enfrentados se apropiaron de la victoria final. En todo caso parece que la batalla tuvo dos momentos clave, dominados cada uno de ellos, respectivamente, por sendas facciones. De hay la eterna duda de quien fue vencedor general.

Torrecuso no estuvo presente en el famoso lance, enviando en su lugar, como máxima autoridad de la tropa castellana, al Barón de Molinghem.

El año siguiente, 1645, continuo la misma tónica. Constantes alarmas y salidas cuyo fin básico era el ganado, realizar rapiña, incendiar poblados, desabastecer al contrario… En definitiva, la forma usual de realizar la guerra en una frontera muy extensa, defendida por un ejército poco profesional, pese a la laboriosidad de Torrecuso por mantener siempre el buen orden y disciplina.

Elvas, Campo-Maior, Jérez de los Caballeros y otros tantos lugares del sur, de nuevo se tornaron en escenario de encuentros campales entre fuerzas portuguesas y castellanas. Mientras tanto al norte, los vecinos de Zarza la Mayor, para vengar el ataque sufrido el año anterior, organizaron un nutrido grupo de jinetes voluntarios, los llamados Montados, semejantes a las compañías pilhantes de Portugal, con el cual batieron varias veces la comarca de Castelo Branco, quemando aldeas como Sao Miguel D´Acha, Ladoeiro, Alcafozes, Zebreira…

Debido a un permanente estado de tensión militar y la noticia de varias derrotas, la buena estrella de Torrecuso se fue apagando. También tuvo buena parte de culpa las rencillas internas, pues entre sus propios oficiales surgieron voces en contra, muy críticas con la forma de dirigir el ejército utilizada por el Marqués.

Él noble napolitano comprendió lo difícil de su situación, y no queriendo perder más crédito en la frontera extremeña, solicitó ser relevado de su cargo, cosa que ocurrió rápido, pues también en la corte de Madrid deseaban ver lejos al italiano.

Para sustituirle entró al mando el Marqués de Leganés, dº Diego Mesia Felipez de Guzmán. Las cosas con él tampoco cambiaron en exceso. Buena prueba es que, a poco de llegar al mando, se produjo el choque llamado posteriormente Ventas de Alcarabica.
Pero eso es otra historia.

Juan Antonio Caro del Corral

(Sobre o combate de Alcaraviça, veja-se o artigo gentilmente enviado pelo Sr. Santos Manoel, publicado aqui e aqui – com um acrescento de minha parte aqui).

A propósito do Marquês de Torrecuso, escreveu nas suas memórias o soldado de cavalos Mateus Rodrigues:

Agora falarei do grande soldado que era o Torrecruz [Torrecuso], que não havia em Espanha soldado como ele. Que a sua guerra foi a mais limpa que nenhum até hoje fez, porque nunca jamais quis que a cavalaria fosse às pilhagens, que as podia fazer mui boas, e também nunca quis derrubar os arcos da Amoreira [referia-se ao aqueduto que abastecia a cidade de Elvas], por onde ia a água à cidade, coisa que [a] havia de pôr em grande aperto, mas dizia ele que esas cosas no las hasian sino picaros. (MMR, pg. 91)

Mateus Rodrigues terá escrito esta passagem por volta de 1657. Se a sua memória em relação ao general espanhol não é muito exacta no que toca às operações de pilhagem, já o respeito que demonstra pelo comandante inimigo revela o legado de fama que Torrecuso deixou entre os soldados portugueses.

Imagem: “Soldados equipando-se”, pintura de Jacob Duck, Minneapolis Institute of Arts. Um detalhe deste quadro já foi incluído num artigo anterior. Note-se o equipamento dos soldados de infantaria (e do dragão que coloca a bandola com os “12 apóstolos” – veja-se as esporas, o que demonstra tratar-se de infantaria montada) e, como curiosidade, o modo de acordar o soldado adormecido, fazendo cócegas com uma espiga no nariz; um pormenor que é possível encontrar noutra pintura do mesmo autor.

Alguns dados biográficos de D. Sancho de Monroy, mestre de campo do exército espanhol – por Juan Antonio Caro del Corral

Al hilo de lo referido en el artículo sobre el encuentro de Moraleja en marzo de 1650, y tomando como principal consecuencia del mismo la muerte de dº Sancho de Monroy, quien comandaba las tropas castellanas derrotadas y, además, ejercía el mando militar de toda la zona (española) fronteriza dónde se libró la batalla, queríamos añadir un breve comentario biográfico acerca de citado personaje, mediante el cual se entiende la satisfacción mostrada por los soldados portugueses, especialmente su comandante, dº Sancho Manuel de Vilhena (futuro Conde de Vila Flor), al saber la noticia del fallecimiento. Vayamos, pues, a esa cita:

ALGUNOS DATOS BIOGRAFICOS DEL MAESTRO DE CAMPO, DON SANCHO DE MONROY

Los datos extraídos de su Hoja de Servicios, indican que Sancho comenzó su exitosa carrera militar en torno al año 1636; al menos en tal fecha se le nombra con cargo de capitán de una compañía de infantería española de picas y otra de caballos lanceros, ambas pertenecientes al ejército desplegada en las provincias flamencas. Allí estuvo durante tres años, comenzados a contar desde el referido 1636, hasta el día 11 de enero de 1639, en el cual recibio licencia. En ese tiempo se halló en la recuperación de las plazas francesas de Armont y Velamont, así como en el sitio impuesto a la villa gala de Maguz. Una de sus acciones estelares ocurrió la noche del 21 de junio de 1638, dónde fue en socorro de las compañías que habían partido en vanguardía para conquistar el fuerte y dique de Calo. Se situó en primera línea de combate, resultano herido en el brazo izquierdo a consecuencia de un certero mosquetazo; pero insistió en seguir dando pelea, hasta que nuevamente recibió en el mismo miembro otro disparo, cayendo definitivamente al suelo teniendo entonces que ser desalojado. La gravedad de las heridas fue motivo de que le amputasen el brazo mencionado. Regresado a España, fue premiado con 80 escudos de sueldo al mes (merced real concedida el 20 de febrero de 1640). Tras haber servido algunos meses en el frente catalán bajo órdenes del Marqués de los Velez, y habiendo sido otra vez licenciado para descansar, volvió a empuñar las armas en el recien creado Ejército de Extremadura. Aquí obstento el puesto de Maestro de Campo de un tercio de infantería castellana, el cual ubicó sus cuarteles en la ciudad de Badajoz desde el 16 de agosto de 1643 hasta 11 de enero de 1646 (28 meses y 26 días en total), fecha en la que se reformó su compañía. Entre los sucesos que contaron con su presencia fue de notar la batalla de Montijo, dónde el resto de compañeros y oficiales concluyeron que jugo un papel destacadísimo para que el bando castellano obtuviera el triunfo (sobre el desenlace del combate actualmente hay opiniones diferentes: para unos resultaron vencedores los españoles, para otros fueron los portugueses) dado que con su tercio y la colaboración del que comandada dº Juan Bautista Pignatelli, rompieron uno de los escuadrones lusitanos, poniéndolos en fuga. El propio Sancho de Monroy logró atrapar a Francisco de Almada “… agarrandole por las gresas…”. Tras aquel combate, y por lo bien que se había comportado, el monarca español Felipe IV decidió no reformar el tercio liderado por Monroy, siendo éste el único que se libró de aquella reestructuración. Luego de 1644 pasó don Sancho a pelear en la defensa de Badajoz y también en la de Jeréz de los Caballeros, por tener avisos el Conde de Santisteban (máxima autoridad del ejército extremeño)de que los portugueses hacían intención de tomarla. Poco tiempo después, el Marqués de Molinghen le llamó para acudir a dar batalla frente a los muros de San Alexo y Safara; e igualmente obraron el Marqués de Torrecuso y el de Leganés, bajo cuyas órdenes lucho Monroy en los encuentros de Elvas, puente de Olivenza, fuerte de San Juan y Telena respectivamente. Las siguientes noticias que hemos recopilado sobre la azarosa vida de nuestro personaje, nos situan en 1648, dónde Sancho parece que ya esta al frente de la jefatura del partido de Alcántara. Desde ese momento sera protagonista de varias escaramuzas libradas en pueblos de la zona aludida, ganándose el respeto, como afamado militar y digno rival, en palabras de dº Sancho Manuel. Tras su muerte, acaecida la noche del 23 de marzo en la pelea junto a Venta del Caballo (punto intermedio entre Zarza la Mayor y Moraleja, su esposa viuda, Josefa Andrea de Aldana, solicitaba un reconocimiento (“… lo mataron los portugueses a sangre fría teniéndolo prisionero…”) pues ella había quedado en un estado de gran precariedad y pobreza, habiendo perdido no sólo a su marido, sino que con él gran parte de su hacienda, teniendo ahora que afrontar muchas deudas.
Para terminar digamos que el nombre completo de nuestro protagonista fue Sancho de Monroy y Guzmán Zúñiga y Enríquez de Guzmán. Nació en la localidad cacereña de Monroy, siendo uno de los miembros del linaje del mismo nombre. Su probada nobleza e hidalguía le fue confirmada poco antes de morir, concediéndosele el hábito de caballero de la Orden Militar de Alcántara.

Imagem: Piqueiros e mosqueteiros formando em batalha – ou seja, compondo um esquadrão. Foto de J. P. Freitas, em Kelmarsh Hall (Inglaterra), durante uma reconstituição de um combate do período da Guerra Civil Inglesa.

Os antecedentes do combate de Moraleja (23 de Março de 1650), por Juan Antonio Caro del Corral

A propósito do artigo recentemente aqui colocado sobre o combate de Moraleja, o estimado amigo e investigador Juan Antonio Caro de Corral inseriu um comentário que, em si mesmo, é um interessante artigo, que completa e esclarece o anterior por mim publicado. Por esse motivo, e com a devida vénia, aqui lhe dou o devido destaque:

Muy cerca de dicha plaza de armas portuguesa – que era el cuartel principal de esta zona fronteriza – se situaban, en el lado extremeño, dos localidades de igual importancia: Moraleja y Zarza la Mayor.


De ambas solían partir las milicias que se internaban en Portugal a saquear. Por dicho motivo, don Sancho Manuel lanzaba, siempre que podía, ataques para contrarrestar tales entradas.

La orografía del terreno era muy propicia para llevar a cabo emboscadas, que era la táctica más usual empleada por los militares, con el fin de obtener un mayor benefício con un coste mínimo.

Con tales precedentes, ya en los inicios de febrero tuvo lugar una escaramuza en un lugar situado a medio camino entre las citadas Zarza y Moraleja, llamado Ventas del Caballo, escondido entre la Sierra de la Garrapata, límite natural de los términos municipales de sendas localidades.


Los hombres de Sancho Manuel consiguierón excelente botín, lo que propició una respuesta castellana; precisamente el ataque a las proximidades de Penamacor, en el cual murieron los dos oficiales que cita el artículo de Jorge P. Freitas, y que aparece como cabecera de este breve comentario.

Tras dicha cabalgada, y sin apenas tiempo para descansar, se produjo una nueva operación militar. Esta vez se trato de una acción a modo particular, protagonizada por un soldado de Zarza la Mayor que respondía al nombre de Juan Martín Garrido. Sin contar con apoyos, trabó combate con un grupo de caballería portuguesa que realizaba un reconocimiento de vigilancia en los alrededores de Salvaterra do Extremo, localidad rayana muy próxima a Zarza la Mayor. Logró arrebatarles varias monturas, regresando a su cuartel muy satisfecho.

Como otras veces anteriores, Sancho Manuel dispuso una salida de represalía, que fue abortada por el capitán extremeño Fernando Alonso Torobico, quien parapetó en Zarza más de 400 infantes.

Insitió el empeño del general lusitano, y fue entonces cuando se produjo el combate de Moraleja, durante la noche del 23 de marzo, volviendo a ser escenario del suceso el paraje de las Ventas del Caballo.


La noticia de la derrota castellana fue muy bien aprovechada y publicitada por el bando portugués. No en vano, entre los soldados caídos, se encontraban varios oficiales que se habían distinguido por su eficacia en escaramuzas anteriores, causando graves daños a los pueblos lusitanos de la frontera beirense. Entre los muertos estaba el capitán zarceño Juan Montero Polán, uno de los más destacados de las milicias populares de la localidad, comunmente llamadas Montados de Zarza (un escuadrón semejante a los caballos pillantes portugueses)y, como no, la muerte más aplaudida (y llorada) fue la del oficial al mando, don Sancho de Monroy, de ilustre familia con mucha historia militar a sus espaldas. Dicen las viejas crónicas que el combate de aquella madrugada fue tan sanguinolento, que a varios de los muertos les cortaron posteriormente las orejas.

Apenas se dió la alarma de lo sucedido, toda la comarca se puso en defensa, pensando que los portugueses, animados con su victoria, continuarían su avance demoledor.

Gracias a los socorros enviados, desde la plaza de Alcántara, por el maestre de campo don Simón de Castañizas, a los que se sumaron los vecinos de pueblos cercanos (unos 150 jinetes), se logró detener a la tropa de Sancho Manuel.

Más tarde se reanudarían los ataques recíprocos, pero eso es otra historia.

Como nota final, comentar que existe un folleto propagandístico de lo sucedido. Se titula de la siguiente manera:
Relaçam da insigne Vitoria que o Gouernador das Armas D. Sancho Manoel alcançou dos caftelhanos en que foi morto, Don Sancho de Monroy feu Gouernador das Armas.

Imagens:

Em cima, vista de satélite das localidades de Moraleja (canto superior direito) e Zarza la Mayor (em baixo) na actualidade, a partir do programa Google Earth; a amarelo, a fronteira hispano-portuguesa.

Em baixo, reprodução parcial de Le Portugal, exemplar de cartografia francesa dos inícios do século XVII. Note-se, na parte superior direita deste pormenor do mapa, a localidade de “Moralexa”, ou seja, Moraleja. Biblioteca Nacional de Lisboa, Cartografia, CC1777A.

Badajoz, 1652 – a intentona frustrada (1ª parte)

badajoz

É quase desconhecida a tentativa de tomada de Badajoz pela traição, nos inícios de 1652, por parte dos portugueses. Praça-forte fundamental do sistema defensivo da fronteira extremenha, tal como Elvas o era para o Alentejo, Badajoz correspondia à congénere portuguesa do Alentejo na importância e inexpugnabilidade. Tal como os cercos que Elvas sofreu, também os que os portugueses puseram ou tentaram pôr a Badajoz não resultaram. Um deles, previsto em 1645, não se concretizou por contratempos vários, quando o exército comandado pelo 2º Conde de Castelo Melhor já marchava para o objectivo. Em 1658, Joane Mendes de Vasconcelos (o mesmo que treze anos antes se pronunciara contra tão arriscada aventura) montou um desastroso cerco a Badajoz, em resposta à perda de Olivença no ano anterior. O que quase se perdeu, no rescaldo, foi o exército do Alentejo. E temeu-se pela sorte da guerra quando, nos finais desse ano de 58, D. Luís de Haro foi cercar, por sua vez, a cidade de Elvas. Mas também essa tentativa fracassou.

A solução da traição foi sempre procurada por ambos os lados em conflito, de forma a conseguir tomar uma praça importante, de surpresa e sem esgotamento de meios bélicos. Em Janeiro de 1652 proporcionou-se ao mestre de campo general do Alentejo (que desempenhava também, interinamente, o governo das armas) D. João da Costa, a possibilidade de alcançar esse feito no que respeitava a Badajoz. Para além da menção que ao episódio se faz na História de Portugal Restaurado, do 3º Conde de Ericeira, existe na secção de Reservados da Biblioteca Nacional de Lisboa um relatório detalhado do tenente-general da artilharia João Leite de Oliveira, publicado pelo coronel Horácio Madureira dos Santos (Cartas e outros documentos da época da Guerra da Aclamação, Lisboa, Estado-Maior do Exército, 1973, pgs. 179-184); o tenente-general tomou parte activa na operação e chegou a entrar, sob disfarce, em Badajoz. Ao relatório deste oficial junta-se um capítulo do manuscrito de Mateus Rodrigues (Matheus Roiz), em que o soldado de cavalaria narra o que ouviu contar da boca de João Dias de Matos , então furriel e intrépido espião que se infiltrou em Badajoz, preparando os pormenores da traição (poucos anos depois, sendo tenente da companhia de D. Luís de Meneses, este João Dias de Matos desertaria para o inimigo; e já como capitão de cavalos do exército de Filipe IV, preparou e levou a bom termo a tomada – também pela traição – da praça de Olivença). Todavia, Mateus Rodrigues erra na data do episódio, situando-o um ano mais cedo do que efectivamente se passou. Mas a sua narrativa contém pormenores mais rocambolescos do que o relatório oficial de Leite de Oliveira. Para completar este pequeno leque de fontes primárias, existe o relatório da confissão de um dos militares do exército espanhol envolvidos na traição (Arquivo Geral de Simancas, Sección Guerra Moderna, Legajo número 1822). Chegou-me ao conhecimento por via do estimado amigo Juan Antonio Caro del Corral, investigador e autor, que já teve a grata amabilidade de me permitir aqui publicar algumas das suas excelentes pesquisas, e a quem renovo os meus agradecimentos por tão preciosa ajuda.

Prelúdio à traição

O relatório de Leite de Oliveira principia pela tomada de prisioneiros do exército espanhol (ortografia e pontuação actualizadas para português corrente):

Em 26 de Janeiro [de 1652] se fizeram prisioneiros cinco pilhantes de pé, entre os quais vinha um sargento da companhia do mestre de campo o Conde de Torregon; estes estavam na estrada de Juromenha para fazerem nela alguma pilhagem, foram descobertos dos pastores que os fizeram prisioneiros e trouxeram a Elvas. Nas perguntas que lhe fiz das cousas de Castela, catequisei o sargento, dizendo-lhe que era um soldado pobre, que sua miséria o obrigava às pilhagens a pé, que nos quisesse dar alguns avisos e fazer algum serviço a El-Rei de Portugal, que com isso podia conseguir muito proveito, e livrar-se da miséria em que vivia.

Isto [se] passou entre nós, sem estar outra pessoa presente, ao que me respondeu depois destas promessas que ele não só nos queria dar avisos, senão que se atrevia a entregar o castelo de Badajoz, aonde ele era costumado entrar de guarda cada cinco noites, porém que sempre lhe era necessário comunicar este negócio com um seu camarada, também sargento, de uma companhia do mesmo terço, o qual era natural do país de Flandres, e este era galego de nação. (“Relação…”, in Madureira, pg. 179)

O sargento galego chamava-se Alonso de Castro e o flamengo, com quem queria combinar o assunto da traição, chamava-se Alejandro Perez e nascera em Cambrai, conforme consta da confissão deste, feita sob tortura (AGS, Guerra Moderna, Leg. nº 1822). Na versão do manuscrito de Mateus Rodrigues, eram estes sargentos grandes amigos e camaradas, cujas companhias estavam sempre efectivas de guarnição no castelo de Badajoz, sem se mudarem, e teriam combinado ambos virem às pilhagens a Portugal, já com o intuito de se deixarem prender e proporem a traição a D. João da Costa, livrando-se assim, com a recompensa que receberiam, das muitas necessidades que então padeciam. (MMR, pgs. 143-144)

(continua)

Imagem: Planta do perímetro defensivo de Badajoz (c. 1645), sendo bem visível a localização do castelo mencionado no texto; in La memoria ausente. Cartografia de España y Portugal en el Archivo Militar de Estocolmo. Siglos XVII y XVIII.

O assalto a Zarza la Mayor, 11 a 16 de Junho de 1665 (2ª parte)

O saque e incêndio de Zarza la Mayor pelas forças comandadas por Afonso Furtado de Mendonça ocorreram após a imposição de severas capitulações e a evacuação da guarnição e população locais. Somente dois anos e meio depois, com a assinatura da paz, regressariam os habitantes, aos quais se juntariam algumas famílias de Ceclavín, Brozas, Membrio e outras localidades. O sucedido em 1665 reflectiu-se no topónimo pelo qual a vila ficou conhecida durante algum tempo: Zarza la Quemada. Mas vejamos a descrição do assalto pela pena de um habitante de Zarza, aqui transcrita no castelhano original, que não será de difícil entendimento:

“… En las pocas ocasiones que he tenido en que servir a Vmd. no me han dado lugar a que haya tenido hasta agora ninguna en que escriba a Vmd, aunque en mi memoria y voluntad siempre ha estado vivo el recuerdo de servirle. Y porque ahora le considero no solamente apesarado, sino confuso con la variedad de nuevas que por allá han corrido, he querido en esta darle a Vmd. cuenta de todo cuanto ha sucedido en nuestra Zarza.

Vinó el enemigo, jueves medio día 11 del corriente, con 4000 infantes y 600 caballos, y de hecho se arrimó a tiro de pistola de la muralla, porque como el tiempo era de segada y el lugar se componía de gente trabajadora, estaban los más fuera, con que adentro no se hallarón más de 204 hombres, soldados y vecinos, en que entraba la compañia de caballos naturales; puso tres ataques; el uno se entró luego en la ermita de Nuestra Señora del Castillo; el otro desde la Fuente Concejo, aquel arroyo abaxo a su cortina de Vmd. hasta San Gregorio, y el otro hasta San Sebastian en unos huertos que estaban muy arrimados a aquel fuerte de este sitio. La poca gente nuestra se repartió, poniendo en cada fuerte de los dos que había, en el de San Roque 40 hombres, en el de San Sebastian 30 y en los demas fuertes, que eran 11, unos a 3 y otros a 4, y los caballos repartidos por puestos a 10 y 12 en cada uno para defender los lienzos que estaban desmantelados; de este modo se ajustó la gente y pelearon con tanto valor que el enemigo no pudó conocer nuestra flaqueza.

En viernes en la noche, a la 10 della, dió avance general y se resistió tanto que el enemigo se volvió atrás muy de veras. El sábado, con 5 piezas de artillería que tenía de a 25 y de a 30 libras, se disparó sobre 200 cañonazos, cosa increíble para los soldados, pues todos decían que era cosa de admiración tanto disparar. Y echaron 6 bombas, que aunque atemorizaron, no hicieron daño; las baterías tampoco lo hicieron, porque las pusieron a los fuertes, que era lo de mayor resistencia. En la noche volvieron a dar dicho avance general y por la parte de San Gregorio subieron la escala muchos que desde encima la muralla tuvieron la fortuna de volver a salir fuera, porque los caballos estuvieron tan briosos que no dieron lugar a que osasen entrar dentro. En esta noche arrimaron mantas al fuerte de San Sebastián y lo minaron, porque aunque procuraron con paja, aceite y otras cosas quemarle las mantas, no pudieron, porque las traían aforradas en hoja de lata.

El enemigo había pedido capitulaciones y no se habían admitido, pero ya con la mina y la demasiada artillería y bombas que los iba descomponiendo y más el demasiado trabajo que no podía ninguno reposar un instante, procuraron capitular y ajustaron lo siguiente: Que habían de salir los soldados con sus armas cuerda encendida y vala en boca los de a caballo desmontados y con sus armas, que para la gente de guerra habían de dar 20 carros en que sacasen su ropa y para los vecinos 50 cabalgaduras que sacasen cargadas, y que cada uno, tanto soldados y vecinos, como mujeres y zagales, sacasen sobre sí lo que pudiesen.

De contrario sentir fueron muchos que no querían todavía capitular; otros quisieron, y Martín Sánchez Pardo, con otros majaderos que le acompañaron, los ajustó y firmó, domingo a 5 de la tarde, con que si con socorro real no fuese socorrido, entregaría la plaza martes a las 6 de la mañana. No lo fué, y entrególa, saliendo la gente para Ceclavín los más. y algunos para esta villa, que así fué el trato.

Entró el enemigo, quemó y destruyó el lugar tan de todo punto que no quedó casa sin esta diligencia. Y a la iglesia hizó 3 minas, con que la arruinó toda, cosa tan lastimosa que esto me tiene sin sentido.

La gente se hallaba tan desvalida que todos a una quisieran volverse. Y para ello han despositado dinero con su demasiada pobreza para que mi primo Don Juan Fernández Cabronero vaya a esa Corte a pedir el que S.M los fortifique y le de pan de munición por familias y 200 caballos que montarán 200 naturales y servirán a S.M, destruyendo el país vecino como lo han hecho hasta aquí.

Esto se ha entibiado algo con la rota de nuestro ejército, que porque Vmd. por allá ya lo sabrá por extenso no escribo como fué.

Ante ayer en la noche vino el enemigo a Herrera, que está a la parte de Valencia; quemó el lugar, retiróse ayer a medio día, quedó el castillo; no sé la resolución que tomarán los vecinos, que han sido también muy famosos y han hecho mucho daño por aquella parte; dícese que su exército está junto y quieren dar en Plaza; Dios nos remedie, que esto está de muy mala calidad.

Vmd. me avisará de su salud y de la resolución que para ella se toma con estas cosas de nuestra Zarza; no murieron más de 2 hombres y 2 forasteros; llevaron los ornamentos de la iglesia, el Santo Cristo que habían traído de esa Corte, a la Virgen del Rosario y la de Sequeros, a Santa Clara, San José y otros santos, y en medio de la codicia dejaron a la Virgen Santísima del Castillo, con quien ellos tienen toda devoción. Y ya la tenemos en Ceclavín, cosa que habíamos tenido a milagro de su Divina Majestad. Al Santo Cristo del Paso le quitaron un brazo para desnudarle la túnica de tafetán que tenía tanto tiempo ha; a San Marcos descabezaron, y de este modo hicieron otras infamias ellos, que entre nosotros no faltaron, pues el cura por sacar en 2 carros que le dieron azúcar y cera a medias de solos vasos sagrados y todos los ornamentos de la iglesia, de que el general enemigo hizo mucha novedad, en que se conoce que ya la codicia seria en todos sujetos.

Guarde Dios a Vmd. muchos años. Alcántara y junio, 26 de 1665…”

Agradeço ao estimado amigo Juan Antonio Caro del Corral o envio do documento acima transcrito e do seu trabalho Zarza la Mayor: tierra de frontera y escenario de guerras, recentemente apresentado durante as 1as. Jornadas Culturales Zarceñas, bem como de várias outras informações que permitiram a elaboração deste apontamento sobre o assalto a Zarza la Mayor. De facto, a ele cabe todo o mérito da investigação, eu aqui fui somente escriba.

Imagens: Ambas da autoria de Juan Antonio Caro del Corral – a primeira mostra a vila de Zarza la Mayor em 1665 e os locais de assédio das forças portuguesas, e a segunda apresenta o campanário da igreja paroquial, onde ainda são visíveis os danos sofridos durante o assalto.

O assalto a Zarza la Mayor, 11 a 16 de Junho de 1665 (1ª parte)


O estimado amigo e investigador Sr. Juan Antonio Caro del Corral tem sido de uma inexcedível gentileza ao enviar-me muitos documentos, além de excelentes trabalhos de sua lavra (nomeadamente sobre a história de Zarza la Mayor), que muito enriquecem o conhecimento sobre um teatro de operações menos citado que o do Alentejo, mas nem por isso menos importante: o da raia da Beira Baixa e Extremadura (partido de Alcántara). Cabe hoje trazer aqui, precisamente, um acontecimento que marcou os anos finais da Guerra da Restauração no que a Zarza la Mayor diz respeito: o assalto e destruição da vila extremenha, que ficou despovoada até à cessação das hostilidades, cerca de dois anos e meio depois.

A operação, que decorreu ao mesmo tempo que o Marquês de Caracena entrava em Portugal pela fronteira do Alentejo e punha cerco a Vila Viçosa (uma campanha que culminou na importante batalha de Montes Claros, em 17 de Junho), mereceu algumas linhas no Mercurio Portuguez de Junho de 1665, a publicação periódica redigida por António de Sousa de Macedo:

(…) O governador das armas do partido de Castelo Branco na Província da Beira, Afonso Furtado [de Mendonça], entrou em Castela pela Estremadura (que é a mesma província do governo [do Marquês] de Caracena), com parte de cinco mil infantes, e de quinhentos cavalos, com que se achava, e de seis peças de artilharia; e aos 14 deste mês, depois de três dias de brava peleja, se lhe entregou a Sarça, praça de mil vizinhos. que, demais de sua muralha, tinha três fortes, e outras fortificações modernas, governada por Martim Sanches Pardo general da artilharia ad honorem, com guarnição de cem cavalos, e duzentos infantes, além dos moradores ordinários. Custou-nos a vida de vinte e dois soldados, e de um mestre de campo auxiliar; e arrazámos esta praça de modo que não ficasse habitável, nem pedra sobre pedra dela, em castigo da insolência de seus habitadores [sic], cujo ofício, ainda dos que não professavam ser soldados, era não só roubar os campos, mas também ter por gosto matar os nossos a sangue frio.

Para melhor compreender esta última afirmação, convém dizer que Zarza tinha uma companhia de caballos naturales, conhecida por Montados de la Zarza – o equivalente às companhias de moradores ou cavalos pilhantes dos portugueses. Esta unidade, que tanto servia para defender os campos de Zarza como para fazer incursões de pilhagem em território português, era um pesadelo para os habitantes da raia beirã. A julgar pelo modo como eram considerados, dentro do exército português, os próprios pilhantes (intratáveis e indisciplinados), não será de admirar que Sousa de Macedo tenha estendido a todos os zarzenses a crueldade que, muito provavelmente, seria perpetrada pelos milicianos dos caballos naturales.

Na segunda parte veremos como o assalto foi reportado por um habitante de Zarza la Mayor.

Imagens: Na primeira foto, reproduzida a partir do programa Google Earth, vemos a localização de Zarza la Mayor, a leste de Salvaterra do Extremo (para ampliar, basta clicar sobre a imagem). Na segunda foto, da autoria de Juan Antonio Caro del Corral, a igreja paroquial de Zarza, muito danificada nos combates de 1665.