Há 350 anos… Notas sobre a campanha do Alentejo de 1663 – de 1 a 3 de Junho

 

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O Conde de Vila Flor permaneceu no Alandroal de 25 de Maio até 1 de Junho, tendo incorporado os socorros de Lisboa (sob o comando do comissário geral Gonçalo da Costa de Meneses) e da Beira (comandados pelo general da cavalaria Manuel Freire de Andrade). Foi no Alandroal que tomou conhecimento da força de cavalaria e infantaria enviada por D. Juan de Áustria para Alcácer do Sal. Por isso decidiu partir apressadamemte rumo a Évora, procurando apanhar o inimigo dividido. Segundo a narrativa de António Álvares da Cunha (Campanha de Portugal pella provincia de Alemtejo, na Primavera do anno de 1663, Lisboa, Officina de Henrique Valente de Oliveira, 1663), como a campanha do Alandroal a Évora é capacíssima, marchou sempre o exército em batalha, na forma seguinte; a qual se guardou em todas as marchas, e sò no dia da batalha do Canal [nome pelo qual foi inicialmente conhecida a batalha do Ameixial] se alterou, como referiremos (p. 33).

O exército dividia-se em 20 esquadrões de infantaria e 64 batalhões de cavalaria. Na vanguarda marchavam 18 peças de artilharia de vários calibres com o general D. Luís de Meneses. A 1ª linha constava de 5.000 infantes em 9 esquadrões, que governavam os mestres de campo Sebastião Correia de Lorvela, Lourenço de Sousa de Meneses (Aposentador Mor de Sua Majestade), Miguel Barbosa da Franca, Fernão Mascarenhas, Simão de Sousa de Vasconcelos, Tristão da Cunha, Francisco da Silva de Moura, João Furtado de Mendonça e James Apsley, coronel de um regimento inglês. Esta linha ficou a cargo de Afonso Furtado de Mendonça.

A 2ª linha constava de 3.500 infantes em 8 esquadrões, comandados pelos mestres de campo Pedro César de Meneses, D. Diogo de Faro e Sousa, Jacques Alexandre Tolon (francês), Martim Correia de Sá, Alexandre de Moura, João da Costa de Brito, Manuel Ferreira Rebelo e Thomas Hunt (tenente-coronel do outro regimento inglês). Esta linha ficou sob o comando de D. João Mascarenhas, Conde da Torre e futuro Marquês de Fronteira.

A reserva constava de 1.500 infantes em 3 esquadrões a cargo dos mestres de campo Paulo de Andrade Freire, Lourenço Garcês Palha, Luís da Silva e António da Silva de Almeida.

Cobriam os lados da 1ª linha de infantaria 1.500 cavalos em 30 batalhões, 15 por cada parte. No corno direito estava o general da cavalaria Dinis de Melo de Castro com os seus tenentes-generais D. João da Silva e D. Luís da Costa e o comissário geral Duarte Fernandes Lobo. O corno esquerdo da cavalaria desta linha era comandado pelo general da cavalaria da Beira Manuel Freire de Andrade, com o seu tenente-general D. Martinho de Ribeira e o comissário geral Gomes Freire de Andrade.

A 2ª linha guarnecia o mesmo número, com a mesma ordem. Regia o corno direito o tenente-general da cavalaria D. Manuel de Ataíde e os comissários gerais João do Crato e Gonçalo da Costa de Meneses; e o esquerdo o comissário geral D. António Maldonado.

A reserva era coberta por 300 cavalos em 4 batalhões, comandados pelo comissário geral Matias da Cunha.

 A disposição de tudo estava à ordem do Conde de Schomberg, a quem assistia o sargento-mor de batalha João da Silva de Sousa e os tenentes de mestre de campo general António Tavares de Pina, Pedro Craveiro de Campos e Fernão Martins de Seixas, e reformados do mesmo posto os franceses Clairan e Balandrin.

O Conde de Vila Flor, como cabeça daquele corpo, acudia a toda a parte, assistido pelo sargento-mor de batalha Diogo Gomes de Figueiredo. No mesmo exército iam particulares, como Jerónimo de Mendonça Furtado, D. Pedro Mascarenhas e António Jacques de Paiva, este destinado ao governo de Monsaraz, mas que preferiu seguir com o exército, ajudando aqueles de quem tantas vezes fora companheiro em outras contendas.

Sexta-feira, 1 de Junho: o exército acampa a 2 léguas do quartel do Alandroal, contra o Redondo. Sábado, 2 de Junho: aquartelou no ribeiro de Pardielas, 3 léguas de Évora. Domingo, 3 de Junho: apresentou-se no decantado rego da Várzea em forma de batalha, já à vista da cidade de Évora. Neste ponto se incorporou o mestre de campo general Pedro Jacques de Magalhães, deixando em Campo Maior o terço do mestre de campo Bernardo de Miranda Henriques, que trazia consigo do partido de Penamacor. E porque a este posto se chegou tarde, não pôde o exército passar ao Azambujal do Conde, onde queria alojar naquela noite para cortar a gente que havia de vir de Alcácer, mandada regressar por D. Juan. Houve escaramuças, nas quais carregou com a sua companhia o Barão de Schomberg (filho do Conde de Schomberg), a quem tocava a guarda naquele dia, os batedores contrários, pondo-os em fuga. Toda aquela noite foi rigorosíssima de água, conservando o exército a mesma forma e o mesmo posto (Cunha, pgs. 33-36)

Por seu lado, D. Jerónimo de Mascarenhas refere que D. Juan, antecipando a chegada do exército português, mandara chamar a toda a pressa a Alcácer as tropas de Juan Jacome Mazacan. Porém, por causa da falta de disciplina e dos maus caminhos, não lhe foi possível chegar senão no domingo, bastante diminuída, cansada e dispersa por via da recolha dos despojos dos saques.

Imagem: “A emboscada”, óleo de Philips Wouwerman, in http://www.wouwerman.org

Infantaria do Exército da Província do Alentejo em Maio de 1663

Um dia depois de D. Juan de Áustria ter saído de Badajoz com o seu exército, abrindo a campanha do Alentejo de 1663, era remetida ao Conselho de Guerra em Lisboa a lista da infantaria de que dispunha o exército daquela província. Quase 13.000 homens repartidos por oito praças, efectivos cuja junção levaria vários dias a concretizar-se, impedindo assim que fosse barrada a marcha ao exército espanhol que rumava à conquista de Évora.

As praças e as unidades nelas estacionadas eram as seguintes:

Estremoz

Terço da Armada, do mestre de campo Simão de Vasconcelos e Sousa (irmão do 3º Conde de Castelo Melhor, o Escrivão da Puridade e valido do rei D. Afonso VI) – 825 homens, dos quais 87 de baixa por doença.

Terço do mestre de campo napolitano D. Pedro Opecinga476 homens, dos quais 52 de baixa por doença.

– Terço do mestre de campo Tristão da Cunha de Mendonça287 homens, dos quais 9 de baixa por doença.

– Terço do mestre de campo Roque da Costa Barreto418 homens, dos quais 40 de baixa por doença.

– Terço do mestre de campo Lourenço de Sousa508 homens.

– Terço pago de Trás-os-Montes310 homens.

– Terço pago do Algarve457 homens (faltavam ainda 3 companhias, que eram esperadas em Estremoz).

– Terço de Auxiliares de Santarém310 homens.

– Terço de Auxiliares de Vila Viçosa212 homens.

– Regimento de Ingleses do tenente-coronel Thomas Hunt694 homens, dos quais 45 de baixa por doença.

– Regimento de Ingleses do coronel James Apsley495 homens.

Companhias soltas de Italianos263 homens, dos quais 26 de baixa por doença.

Vila Viçosa

– Terço do mestre de campo D. Diogo de Faro279 homens.

– Terço do mestre de campo João Furtado de Mendonça543 homens.

Elvas

– Terço do mestre de campo Francisco da Silva de Moura734 homens.

– Terço do mestre de campo Fernando de Mascarenhas 550 homens.

Campo Maior

– Terço do mestre de campo Pedro César de Meneses462 homens.

– Terço do mestre de campo francês Jacques Alexandre de Tolon360 homens.

– Terço pago de Cascais532 homens.

– Terço de Auxiliares de Avis350 homens.

Portalegre

– Terço do mestre de campo Alexandre de Moura630 homens, dos quais 130 de baixa por doença.

– Terço de Auxiliares de Portalegre 400 homens.

(Na altura da elaboração da lista, tinha chegado a Portalegre o terço pago da Beira, cujo efectivo ainda não fora contabilizado.)

Mourão

– Terço do mestre de campo Martim Correia de Sá350 homens.

– Terço do mestre de campo Miguel Barbosa da Franca501 homens.

– Terço de Auxiliares de Évora541 homens.

Moura

– Terço de Auxiliares de Campo de Ourique600 homens.

– Terço de Auxiliares de Beja350 homens.

Castelo de Vide

– Terço de Auxiliares do Priorado do Crato320 homens.

A distribuição dos militares por praças era a seguinte:

Estremoz – 5.469 (dos quais 1.259 doentes).

Vila Viçosa – 822.

Elvas – 1.284.

Campo Maior – 1.704.

Portalegre – 1.030 (dos quais 130 doentes).

Mourão – 1.392.

Moura – 950.

Castelo de Vide – 320.

Fonte: ANTT, Conselho de Guerra, Consultas, 1663, maço 23, “Lista da infantaria que se acha nas praças desta prouincia de Alentejo em 7 de Maio 663”.

Imagem: Mapa da Província do Alentejo, c. de 1700. Biblioteca Nacional.

Necessidades de material de guerra na província de Entre-Douro-e-Minho, 1657

O 2º Conde de Castelo Melhor, governador das armas da província de Entre-Douro-e-Minho, expôs em duas cartas enviadas ao Conselho de Guerra, em 13 de Agosto e 24 de Setembro de 1657, as necessidades que o seu exército tinha para poder encetar uma campanha ofensiva na Galiza durante o Inverno de 1657-58. Fez acompanhar uma delas da lista exaustiva do material indispensável, que intitulou “Ramo das Couzas e aprestos do Trem da Artilheria que hé nesessario pêra Hum exercito de oito mil Infantes, noueçentos Cauallos, & dous mil gastadores, Campearem dous mezes, em tempo de Inuerno, e fazer acometimento de Praça“.

Contudo, os conselheiros não se mostraram muito entusiastas na apreciação do pedido. Somente em Janeiro de 1658 apreciaram as cartas e a relação do material, e solicitaram à Rainha Regente que ouvisse de novo o Conde sobre as necessidades de defesa da província. Foi dada prioridade às tarefas defensivas: os quatro conselheiros (Pedro César de Meneses, o Conde do Prado, Salvador Correia de Sá e Rui de Moura Teles) reconheciam o valor e a experiência de Castelo Melhor na defesa e conservação de Entre-Douro-e-Minho, mas só Pedro César de Meneses referiu a possibilidade de conduzir uma guerra ofensiva na Galiza. Havia, sobretudo, que não descurar o Alentejo e a Corte (ou seja, a capital do Reino) ao enviar reforços para a província setentrional. A Rainha, em decreto de 5 de Fevereiro de 1658, mandou que se aplicasse o parecer de Moura Teles, que era conforme ao da maioria dos conselheiros.

Sem pretender transcrever exaustivamente a lista, apresenta-se aqui algum do material de guerra nela referido, pois ajuda-nos a ter uma percepção mais concreta do equipamento do exército português do período. Deste modo, o governador das armas solicitava o seguinte:

Artilharia

– 4 meios-canhões de 24 libras de bala.

– 2 quartos-de-canhão, ou meias-colubrinas, de 12 libras de bala.

– 4 bastardas ou peças de campanha de 8 libras.

Todas as peças deviam estar aparelhadas de todo o material necessário, incluindo sobresselentes. E recomendava o Conde: Estas dez peças acima hão-de ser de cano seguido, e de metal de toda a conta.

Munições para a artilharia e armas de fogo individuais

– Para as peças de 24 libras: 192 quintais de pólvora e 1.536 balas. (Um quintal equivalia a 4 arrobas, ou seja, um total aproximado de 45 quilos)

– Para as peças de 12 libras: 77 quintais de pólvora e 1.152 balas.

– Para as peças de 8 libras: 135 quintais de pólvora e 3.840 balas.

– Para se encherem 300 bombas de morteiro e para se encherem 1.000 granadas de mão: 25 quintais de pólvora.

– Para 5.000 armas de fogo necessárias para equipar 8.000 infantes: 300 quintais de pólvora.

– Para as 5.000 armas de fogo: 400 cunhetes de balas de chumbo de mosquetes biscaínhos e holandeses.

– Para as mesmas armas de fogo e para a artilharia: 250 quintais de morrão.

– Para os 900 soldados de cavalos propostos: 8 quintais de pólvora fina.

– Para a cavalaria: 10 cunhetes de bala miúda para pistola.

São ao todo 737 quintais de pólvora, 410 cunhetes de balas, 250 quintais de morrão, 6.528 balas de artilharia.

Armas e equipamento para a infantaria e cavalaria

– Armas de sobresselente para a infantaria e a cavalaria: 800, entre mosquetes e arcabuzes biscaínhos e holandeses, com suas forquilhas e frascos.

– 1.200 piques.

– 100 pares de pistolas com suas bolsas.

– 50 carabinas com suas bandolas.

– 50 selas e freios para cavalos.

– 2.000 pederneiras (para as pistolas da cavalaria).

– 200 pares de esporas.

– 50 corpos de armas com murriões (ou seja, peito, espaldar e capacete, equipamento defensivo para os cavaleiros).

– 50 alabardas (para os sargentos).

– 50 rodelas de ferro e outras tantas espadas largas cortadeiras (para os capitães das companhias de infantaria, ou para os voluntários em operações especiais).

– 60 borrachas grandes para levar, cada uma delas, uma arroba de pólvora (uma arroba: cerca de 11 quilos).

– 4.000 estribos pequenos para a cavalaria.

– 4.000 ferraduras de cavalos.

– 20.000 cravos para as ferraduras.

Fonte:  ANTT, Conselho de Guerra, Consultas, 1658, mç. 18, consulta de 31 de Janeiro de 1658.

Imagem: Granada de mão (século XVII). Utilizada no combate próximo de infantaria, principalmente no assalto a fortificações ou em zonas urbanas. Foto de Jorge P. Freitas.

Rescaldo de uma operação militar – as baixas detalhadas de uma força de cavalaria no combate de 2 de Janeiro de 1664

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Não é muito frequente encontrar documentos que refiram as baixas detalhadas sofridas por uma força militar. Quando escrevo detalhadas, quero dizer: incluindo todos os pormenores, desde o nome de cada militar até ao número exacto de cavalos feridos e mortos. Habitualmente, as relações impressas limitavam-se a enumerar os mortos, feridos e capturados e a destacar os elementos mais importantes da hierarquia militar, membros da nobreza e outros oficiais que caíam em alguma daquelas circunstâncias. Era tudo o que o público curioso das novidades da guerra necessitava saber.

Por este motivo, o relatório que foi enviado ao Conselho de Guerra, em anexo a uma carta do Conde de São João da Pesqueira, governador das armas da província de Trás-os-Montes, é um documento pouco vulgar. Não que fosse necessariamente raro na época, pelo menos no seio de um exército provincial, a circulação de informação deste teor. Contudo, já não era tão frequente que transcendesse e esfera interna de uma província para subir até ao Conselho de Guerra – daí os poucos casos de sobrevivência de documentos com este grau de detalhe. No caso que irei apresentar, a lista de baixas terá servido de argumento para justificar o pedido urgente de reforços para a província de Trás-os-Montes, e por isso foi anexada à carta do governador das armas.

Na carta, o Conde de São João lamenta a falta de cavalaria na província de Trás-os-Montes, devido ao trabalho que tiveram na campanha do Minho e na ocasião do recontro da Beira; solicitava que fosse ordenado a Pedro César de Meneses, general da cavalaria de Entre-Douro-e-Minho, que levantasse gente para formar as tropas; solicitava o envio de dinheiro para que ele, Conde de São João, pudesse comprar 100 cavalos, ainda que em Aveiro ou Coimbra, sem embargo de estar proibido. E pedia, por fim, que o Rei o autorizasse a fazer recolher a a cavalaria de Trás-os-Montes aos seus quartéis (de Inverno).

Em anexo, envia a lista das baixas sofridas na ocasião do socorro à Beira, onde morreu o capitão de couraças João Correia Carneiro, que servia há 23 anos, no decurso dos quais foi ferido inúmeras vezes e mereceu contínuos louvores. Tinha recebido 60.000 réis de tença e o hábito de Cristo. Sobreviveram-lhe duas irmãs, sua mãe e seu pai, com poucos recursos financeiros, pelo que o Conde pedia que o Rei lhes fizesse ainda mais do que esta mercê, “porque com a honra que se faz aos mortos, se premeiam também os vivos” [excerto da carta do Conde de São João de 10 de Janeiro de 1664].

O Conselho de Guerra emitiu parecer favorável  a que se remetesse o máximo de dinheiro possível para que se refizesse a cavalaria, apontando apenas o reparo de se fazer a remonta em Aveiro e Coimbra, pois era de crer que esta mesma falta de cavalos se acharia para as tropas da província da Beira, e que a cavalaria se devia remediar com cavalos de ambas as províncias, Trás-os-Montes e Beira. Acrescentou o Conselho de Guerra que não se devia mandar recolher a cavalaria de Trás-os-Montes aos quartéis sem primeiro escutar os governadores das armas da Beira e de Entre-Douro-e-Minho.

O documento, vertido para português corrente, é apresentado aqui. No próximo artigo será contextualizado, isto é, será feita a descrição do combate onde foram sofridas as baixas que a relação pormenoriza.

Lista dos soldados que morreram em a ocasião de dois de Janeiro e dos feridos, cavalos mortos e cavalos feridos

4 soldados mortos da companhia do General da Artilharia [Domingos da Ponte, o Galego]: Luís Furtado, Francisco Correia, João Carvalho e João Esteves.

6 soldados feridos: os cabos de esquadra João Rodrigues, António Carneiro e Domingos Fernandes Serra, e os soldados Luís Machado, Manuel Ribeiro e António Vaz.

9 cavalos mortos e perdidos: os de João Rodrigues, João Carneiro, Luís Machado, Luís Furtado, Domingos Fernandes Arnelhe, Francisco Correia, João Esteves, António Vaz e Tomé Gonçalves.

2 cavalos feridos: os do tenente e de Domingos Fernandes Jorna.

8 soldados mortos da companhia de João Correia Carneiro: o capitão, Domingos Gonçalves Brilho, António Jorge, Domingos Fernandes, Fernão da Guerra, João Malheiro, Domingos João, Gabriel de Oliveira.

12 soldados feridos: Pedro Gonçalves Brandim, António Rodrigues da Rosa, Francisco Caramona, Marcos Rodrigues, João Carrilho, Domingos Pires Machado, Domingos de Melo, Inácio Caramona, Luís de Castro, João Baía, Augusto Mendes, Matias Rodrigues.

8 cavalos mortos: os de João Carrilho, João Malheiro, Domingos Fernandes, Matias Rodrigues, Pedro Gonçalves Brandim, Gabriel de Oliveira, Domingos João, Francisco Caramona.

6 cavalos feridos: os de António Moniz, Manuel Vaz, António Jorge, o do alferes, Baltasar Lopes, e o cavalo das marchas do capitão.

3 soldados mortos da companhia de João Cardoso Pissarro: Domingos Fernandes, o cabo de esquadra Sebastião Pereira, Amaro de Melo.

4 soldados feridos: o capitão vendado [é assim designado porque ficou cego em resultado dos ferimentos], Francisco Sarmento, Domingos Vaz, Domingos de Barros.

7 cavalos mortos: o do capitão vendado, o do cabo Sebastião Pereira, o de Amaro de Melo, Domingos Fernandes, Francisco Sarmento, Domingos Vaz, Gaspar Gonçalves.

3 cavalos feridos: os de Manuel de Almeida, Pedro Moreno e Francisco da Pasta.

6 soldados mortos da companhia de João Pinto Cardoso: Gonçalo Afonso, João Gonçalves, o ferrador, Domingos Fernandes, Francisco de Castro, João Alvarez.

10 soldados feridos: o cabo de esquadra António de Mesquita, Pascoal de Queiroga, Marcos Luís, Inácio de Gouveia, António de Mesquita Fonte Longa, Serafino de Castro, Luís de Sá, Belchior Gonçalves, o trombeta, e António Guedes (prisioneiro).

14 cavalos mortos: de António Guedes, Gonçalo Afonso, Domingos Fernandes, João Alvarez, Francisco de Castro, Gregório de Morais, João Moniz Roalde, Gaspar de Quiroga, Marcos Luís, João Gonçalves, Inácio de Gouveia, Gonçalo de Magalhães, Fernão Pereira, Serafino de Castro.

Esta companhia não tem cavalos feridos.

9 soldados mortos da companhia do capitão Baltasar Freire: Domingos Lopes, Baltasar Machado, o cabo de esquadra Manuel Carvalho, Pedro Francisco, Gonçalo Pereira, Filipe João, António Gonçalves Chaves, António Gonçalves Infante, Rui de Niza.

6 soldados feridos: António Moniz França, Gonçalo Lobo, Domingos Correia, Jerónimo da Mesquita, Bartolomeu Moreira, Santiago Ferreira.

11 cavalos mortos: de Domingos Lopes, Baltasar Machado, Manuel Carvalho, Pedro Lourenço, Filipe João, António Gonçalves Chaves, António Gonçalves Infante, António Moniz França, Domingos Correia, Bartolomeu Moreira, Gonçalo Pereira.

4 cavalos feridos: o de Rui de Niza, Francisco Rodrigues Tronco, Silvestre Teixeira, Santiago Ferreira.

4 soldados mortos da companhia de Fernão Pinto da Mesquita: o furriel Domingos Cabral, Luís do Rego, João da Costa, Duarte Ferreira.

7 soldados feridos: o alferes Arnelgito, António Navais, João Gomes, o tenente Manuel Pereira, António Pegãos, Pedro Gonçalves, João Godinho.

12 cavalos mortos: os do tenente, do alferes, do furriel, de João Cabral, Luís do Rego, Duarte Pereira, Francisco Alvarez, João da Costa, Filipe Gonçalves, Diogo Pimentel, Pedro Moniz, Manuel Navais.

3 cavalos feridos: o de António Borges, Diogo Gomes e Mateus Rodrigues.

Cavalos mortos: 61

Cavalos feridos: 18

Soldados mortos: 34

Soldados feridos: 45

Fonte: Lista dos Soldadoz q morrerão em a occazião de dous de janeiro e dos feridoz cauallos mortoz e Cauallos feridoz [lista enviada por Domingos da Ponte Galego, tenente-general da cavalaria e general da artilharia ad honorem], anexa à carta do Conde de São de João de 10 de Janeiro de 1664, por sua vez anexa à consulta de 20 de Janeiro; ANTT, CG, Consultas, maço 24, caixa 88.

Imagem: “Combate de cavalaria”, Sebastian Vrancx.

Uma família em armas – os César de Meneses

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A figura controversa de Sebastião César de Meneses é bem conhecida dos estudiosos do século XVII português. Doutor em Direito Canónico, ligado à Inquisição desde 1626 (será Inquisidor Geral em 1663), foi Conselheiro de Estado de Filipe IV e, após 1640, de D. João IV. O ziguezague político foi frequente na sua carreira: Bispo do Porto, de Coimbra e de Braga depois da Restauração, esteve preso entre 1654 e 1656, acusado de servir os interesses de Filipe IV. Reabilitado pela Rainha regente D. Luísa de Gusmão, virou-se contra ela mais tarde, em 1662, ao apoiar o golpe palaciano de D. Afonso VI e alinhar com a facção liderada pelo 3º Conde de Castelo Melhor. Acabou por cair em desgraça em 1663, quando o exército de D. Juan José de Áustria conquistou Évora, cidade onde residia e era Inquisidor Geral. Em 1669 perdeu todos os cargos eclesiásticos que detinha, morrendo três anos depois. A sua obra marcante foi o tratado de teoria política Summa Politica (1649-50).

Não é deste eminente clérigo e estadista que o presente artigo trata, apesar da introdução ter sido dedicada ao membro mais famoso de uma família que também se distinguiu no campo das armas. Os irmãos e sobrinhos de Sebastião César de Menezes serviram com distinção durante a Guerra da Restauração, tendo alguns deles chegado a atingir postos e cargos de importância. Aliás, o progenitor, Vasco Fernandes César, fora capitão de cavalos na Flandres, “com muito boa opinião“, segundo o Conde de Ericeira (História de Portugal Restaurado, Porto, Civilização, 1945, vol. I, pg. 331).

Luís César de Meneses, irmão de Sebastião César e de Pedro César, era o mais velho dos três. Sucedeu a seu pai e foi alcaide-mor de Alenquer, comendador de Lomar e de Rio Frio, e titular do ofício de Provedor dos Armazéns e Armadas, o qual trocou pelo de Alferes Mor do Reino no reinado de D. Afonso VI (um cargo honorífico, que lhe garantia uma renda anual mais elevada que o anterior). Casou com D. Vicência Henriques, filha do Monteiro Mor e Conselheiro de Estado Manuel de Melo, da qual teve Vasco Fernandes César, Pedro César de Meneses e D. Guiomar Henriques. Faleceu em 1666.

Pedro César de Meneses (pai) era irmão de Luís César e de Sebastião César. Capitão-general de Angola em 1639, foi membro do Conselho de Guerra durante a Guerra da Restauração. Recebeu em 1659 a comenda de S. Salvador de Minhotães. Casou com a sobrinha, D. Guiomar Henriques, filha do seu irmão Luís César. Quando ainda servia nas fileiras do exército da monarquia dual, teve em Castela um filho bastardo, ao qual também chamou Pedro César (veja-se a última entrada deste artigo). Faleceu em 1666.

Vasco Fernandes César, filho primogénito de Luís César, serviu no exército do Alentejo. Morreu em 1659, na sequência de ferimentos recebidos durante o cerco de Badajoz, no ano anterior.

Pedro César de Meneses, outro filho de Luís César, sucedeu a seu pai na casa familiar. Durante a Guerra da Restauração, ocupou vários postos no exército do Alentejo. Serviu como general da cavalaria nos exércitos das províncias de Entre-Douro-e-Minho e de Trás-os-Montes. Após a guerra, foi nomeado governador e capitão-general de Angola, mas não chegou a ocupar o cargo, pois morreu num naufrágio a 40 léguas da costa angolana. Nunca casou, mas teve vários filhos ilegítimos: de Catarina de Jour, filha de um mercador francês, teve três filhos, e de uma mulher do Minho, duas filhas. À excepção do filho mais velho, que morreu ainda criança, todos seguiram a vida monástica.

Pedro César de Meneses, filho ilegítimo de Pedro César, nascido em Castela, foi capitão de cavalos, comissário geral da cavalaria e mestre de campo de um terço de infantaria no exército do Alentejo. Após a Guerra da Restauração, foi nomeado governador e capitão-general do Maranhão. Morreu solteiro, no Brasil.

Bibliografia:

ALBUQUERQUE, Martim de, “Para uma Teoria Política do Barroco em Portugal. A Summa Politica de Sebastião César de Meneses (1649-1650)”, in Estudos de Cultura Portuguesa, 2º vol., Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2000, pgs. 355-442.

SOUSA, D. António Caetano de, História Genealógica da Casa Real Portuguesa, Tomo V, Coimbra, Atlântida Livraria Editora, 1948, p. 174-176.

Imagem: Combate entre infantaria e cavalaria. Reconstituição histórica, período da Guerra Civil Inglesa, Kelmarsh Hall, 2008.